AO domingo em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, foi marcado por uma movimentação intensa de políticos do governo Lula e da oposição bolsonarista. De um lado, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro participava da abertura da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, a Agrishow, considerada a maior feira do setor na América Latina e após ter sido “desconvidado” no ano passado. Do outro, o ex-presidente Jair Bolsonaro participou de uma manifestação pela manhã acompanhado dos governadores Tarcísio de Freitas(Republicanos-SP) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).
Bolsonaro só deve participar da feira agro nesta segunda-feira, no entanto, desembarcou na cidade na manhã deste domingo. Além dos governadores, que tentam se mostrar como opção na disputa à presidência em 2026 com o ex-presidente inelegível, o deputado Ricardo Salles (PL-SP), e os senadores Marcos Pontes (PL-SP) e Jorge Seif (PL-SC) também acompanharam a manifestação.
Como de praxe, o ex-presidente realizou uma carreata e motociata pela cidade em um caminhonete aberta, seguida de uma manifestação. Caiado e Tarcísio discursaram no ato. O governador paulista, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, discursou exaltando o ex-chefe do Executivo. O trecho do discurso foi compartilhado por ele em seu perfil nas redes sociais.
— Se as pessoas estão aqui vestindo verde e amarelo, é porque o Bolsonaro despertou esse sentimento em nós. Hoje ninguém tem vergonha de dizer: Deus, pátria, família e liberdade. Nós queremos ver o Brasil verde e amarelo. Por isso a gente grita ‘Volta, Bolsonaro!’ — disse Tarcísio no carro de som, aplaudido por apoiadores bolsonaristas.
O governador de Goiás, nome próximo do agronegócio, também fez uma publicação mostrando sua participação na manifestação bolsonarista. Cotado como um dos pré-candidatos à Presidência em 2026, Caiado lembrou que Bolsonaro está inelegível, mas que sua “luta vai continuar”.
— Eu já fui na minha vida deputado federal com Bolsonaro, senador da República, agora governador de Goiás. E o ex-presidente impedido de ter registrado, neste momento, a sua candidatura, quem tem a capacidade de mobilizar o que Bolsonaro mobiliza nesse país afora, de toda a parte, de Norte a Sul do Brasil. É isso, presidente, pode ter certeza que essa luta vai continuar.
Enquanto isso, Carlos Fávaro participou da cerimônia de abertura da Agrishow, ao lado do ex-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e dos ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia). Em um evento restrito a autoridades e um dia antes da abertura ao público, o ministro da agricultura discursou trazendo o lançamento de uma linha crédito para produtores endividados, que Fávaro chamou de “inovadora” em sua fala.
A presença do ministro ocorreu após uma saia justa no ano passado, em que o ministro da agricultura afirmou ter sido “desconvidado” após o ex-presidente ter confirmado presença no evento. O governo federal chegou a anunciar que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio do evento, levando a Agrishow a cancelar a cerimônia de abertura. O banco, por fim, manteve o apoio. O ex-presidente terminou visitando a feira em 2023 e discursou ao lado de Tarcísio de Freitas. A previsão é que Bolsonaro e o governador paulista participem nesta segunda-feira da feira.
Procurada, a assessoria da Agrishow não confirmou a participação do ex-presidente na feira.
No ano passado, a Agrishow foi o primeiro compromisso de Bolsonaro após retornar do autoexílio nos Estados Unidos. Assim como neste ano, ele estava acompanhado de Tarcísio, e criticou a agenda governista de Lula. O ex-presidente sugeriu ainda que, se Lula atender “10% do que reivindicam” as comunidades indígenas e quilombolas, o agronegócio será prejudicado.
Mesmo com a cerimônia de abertura cancelada em 2023, Bolsonaro driblou a restrição e discursou no mesmo palco em que Tarcísio anunciou uma agenda do governo de São Paulo. Os dois ainda deram uma volta pela feira, causando tumulto, empurra-empurra e arrastando uma multidão junto, e subiram em máquinas agrícolas.
O convite foi feito por Paulo Junqueira, à época presidente do Sindicato Rural e da Associação Rural de Ribeirão Preto (SP). Junqueira hospedou Bolsonaro em sua fazenda em Serrana, próximo a Ribeirão. O empresário é conhecido na cidade por sua proximidade com o ex-presidente.