Passamos pela pedra polida e lascada. Logo Rita Lee cantou o fogo e inventaram a roda, a eletricidade, a máquina a vapor… Vieram grandes revoluções científicas. Veio a era da informática, da economia compartilhada e… chegamos ao tempo dos robôs e da inteligência artificial.
Estamos aqui na terra há milhão de anos? Estimam que humanos modernos estejam há duzentos mil anos. Que seja! Tudo o que se inventou em termos de tecnologia tem 200 ou 300 anos. A eletricidade data de 1750 e picos. O motor a combustão veio depois. O computador estreou em 1950, e o celular começou a ser desenhado na década de 1970, só entrando no mercado no final dos anos 1980. Aí veio o Steve Jobs e quebrou a banca, o mundo passou a ser outro depois da plataforma Iphone, que foi copiada à reviria, e hoje é uma constante nas nossas vidas.
Agora faça como John Lennon, e imagine: considere uma linha do tempo de duzentos mil anos, e pense no que são duzentos ou trezentos anos nessa linha de duzentos mil. Nada!
A humanidade vem avançando a passos de gigante, em progressão geométrica. Saímos anteontem do nada cósmico, e pulamos ontem para a era da inteligência artificial. Sim, uma era que vai alavancar ainda mais o progresso, não obstante o cenário desafiador que foi reconhecido mundialmente por 1000 cientistas em uma carta: Pause Giant AI Experiments: An Open Letter.
Mas quero falar de educação nesse novo tempo. A educação precisa mudar. Não podemos mais ensinar e sermos ensinados como a nossa geração e as anteriores o foram. Precisamos agregar robótica e inteligência artificial em todos os níveis de ensino. Aliás, quando se fala em robótica não dá pra ficar pensando no ultraman e no optimus. Robótica é coisa séria, e muito mais ampla que isso.
Nas décadas de 70 e 80 nos ensinaram a decorar a tabuada, (pasmem!) da mesma maneira que minha filha está aprendendo hoje na escola. Não pode ser! As competências e habilidades necessárias para o mundo novo são outras. Essas tarefas já são realizadas por robôs, e pela inteligência artificial. O que precisa ser desenvolvido nas crianças e adolescentes é a habilidade de pilotá-los.
A geração de nativos digitais precisa ser preparada para assumir as rédeas desses novos atores. E o grande desafio é dar condições para que eles exerçam esse protagonismo. O paradoxo está na crise de transição da era analógica para a digital, e para a inteligência artificial.
É difícil passar um conhecimento que não temos: ensinar a dirigir um carro que mal sabemos ligar. Por mais que a nossa geração seja curiosa e estude, nunca será como a de um nativo digital nascido na última década.
Como pretendemos que um aluno desenvolva habilidades para o mundo novo se os pais e o professor nem conhecem o chat GPT e as centenas de plataformas de inteligência artificial que estão disponíveis gratuitamente na internet? Sem essas ferramentas o aluno não terá espaço no mercado de trabalho que vai exigir trabalhador + robótica + inteligência artificial. Quem não souber pilotar o prompt engineering está fora, em qualquer profissão.
Sinto muito, mas pensar diferente será como foi brigar com uber, o inexorável… não adianta chorar e espernear, tem que desenvolver habilidades humanas voltadas à inovação e criatividade, o resto as máquinas vão fazer, de sobra…
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.