Eleito presidente do União Brasil em meio a uma disputa que tomou proporções criminais, Antônio Rueda é uma figura com experiência nos bastidores da política, mas ainda iniciante sob os holofotes. Antes de chegar ao topo de sua carreira partidária, o advogado expandiu a influência e se consolidou como uma das novas lideranças do Centrão, na esteira da ascensão do bolsonarismo.
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Nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar ameaças relatadas por Rueda. As ameaças em questão incluem incêndio em duas casas de praia, um suposto relato sobre a contratação de pistoleiros e uma ligação do deputado Luciano Bivar (União-PE) na véspera de sua eleição no partido. Bivar sempre negou as acusações feitas pelo ex-aliado. Estão sendo cumpridos cinco mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no interior de Pernambuco.
Rueda foi eleito para o comando do União Brasil no curso da maior crise da história do partido, que ainda não completou três anos de fundação. Desde que chegou em Brasília em 2018, ele mora com a família em uma casa no Lago Sul, área nobre. O imóvel é palco de reuniões e jantares com caciques do Centrão, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e o deputado Marcos Pereira, à frente do Republicanos.
Outra presença frequente é o presidente do PP, senador Ciro Nogueira. É comum, inclusive, que façam viagens juntos. Eles já estiveram no Catar no final de 2022 para acompanhar os jogos da Copa do Mundo, e também já fizeram passeios em Las Vegas (EUA), acompanhados por nomes como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o ex-prefeito ACM Neto, eleito vice-presidente do União Brasil; e o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do partido na Câmara.
A relação com ACM Neto, aliás, ajuda a explicar o trunfo na disputa interna no União. Ao contrário de Bivar, Rueda manteve boa relação com a ala egressa do DEM — apoios que foram essenciais para sua vitória. Integrantes deste grupo avaliam que o presidente eleito tem um estilo diferente do adversário, que costuma centralizar as decisões, e veem em Rueda um perfil mais negociador.
As relações incluem também o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ponte que se manteve mesmo com a saída ruidosa do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos do PSL, em 2019. A proximidade fez com que Rueda participasse de uma operação, mal-sucedida, para trazer Bolsonaro de volta ao PSL entre o final de 2020 e começo de 2021.
O dirigente partidário também participou de reuniões no Palácio da Alvorada com Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial e fez parte da ala que defendia um apoio à reeleição dele, enquanto Bivar queria que o partido apoiasse Lula em 2022. Apesar do posicionamento, Bivar também reúne aliados na esquerda, mas não é próximo ao presidente.
Além de Bivar, Rueda colecionou outros adversários internos. Integrantes da bancada do Rio, por exemplo, tentam aval para sair do partido e dizem que Rueda negociou, sem consultar os parlamentares, indicações para o Detran no estado e para a secretaria municipal de habitação.
Segundo os deputados dissidentes, Rueda teria também dito frases como: “Tomara que saiam do partido” e “prefiro começar o partido do zero no Rio”. Ele nega as acusações e atribui o episódio a uma insatisfação do prefeito de Belford Roxo, Waguinho, que deixou a sigla ano passado rumo ao Republicanos.
Além do conflito no Rio, Antonio Rueda foi protagonista de uma disputa no Acre. Seu irmão Fábio Rueda foi candidato a deputado federal pelo União Brasil no estado em 2022, mas não foi eleito. Fábio protagonizou uma disputa com o senador Alan Rick (União-AC) por influência no diretório estadual, o que fez o senador ameaçar pedir desfiliação. Diante disso, ACM Neto recorreu a Rueda, que falou com o irmão e cedeu a Alan Rick na disputa. Integrantes do partido reclamam sob reserva que Rueda, passa por cima de lideranças políticas e negocia direto com governos locais sobre indicações e participações da legenda.
Filho de médica e de um engenheiro espanhol, Rueda se formou advogado e se especializou na área do direito tributário. Em 1998, conheceu Bivar e foi atuar para suas empresas na área de seguros e, ao lado dele, fazer parte da direção do Sport Clube Recife.
Em 2008, Rueda abriu um escritório de advocacia ao lado da irmã Maria Emília, o Rueda & Rueda. Fã de tecnologia, ele atribui o crescimento do escritório ao uso da ciência. Da inauguração para os dias atuais, eles passaram de mil para mais de 250 mil processos na carteira. Um software usado pelo dirigente partidário dá, por exemplo, um percentual sobre como cada juiz costuma decidir a respeito de determinado tema.
Oito anos depois, assumiu a presidência do PSL, à época um partido nanico. O desafio era superar a cláusula de barreira para manter viva a legenda que tinha apenas um deputado eleito. Rueda nutria a esperança de elevar a bancada do partido para 30 representantes, e acabou elegendo 54 em 2018.
A campanha vitoriosa de Bolsonaro à Presidência foi a bala de prata. A aproximação entre os dois ocorreu via o ex-deputado estadual Fernando Francischini, apesar de Bivar rejeitar a ideia, no começo. Na época, Rueda não tinha certeza de que Bolsonaro poderia ser eleito presidente e viu a facada como evento decisivo para os rumos que a política do país tomou desde então.