Simone, mãe de um menino que joga futsal na escolinha da APEF, me procurou semana passada.
Sua intenção foi pedir ajuda para repercutir (ainda mais) no Balanço Geral da NDTV, o golaço que Felipinho fez durante um jogo pelo estadual Sub 9, no ginásio da Apama, no último dia 26 de abril.
“O gol já alcançou 3 mil visualizações no Instagram. Segue ele. É @felipinhoreinke”, escreveu, empolgada (nesta sexta-feira, a façanha já tinha alcançado mais de 5.700 views).
Até o @falcao12oficial foi citado na publicação.
A família é de Massaranduba.
Trás o ala de 8 anos três vezes por semana para treinar, na Associação São Bernardo, na Itoupava Norte.
Como todos os pais, vive a expectativa do filho se tornar, no futuro, um atleta profissional.
Esse apoio é essencial.
Contudo, não dá para criar um excesso de perspectivas.
Pois a criança (apesar de demonstrar muita força de vontade e humildade) pode se sentir pressionada.
A repetir, no mínimo, o mesmo desempenho.
Espero que Felipinho alcance seu sonho.
Embora, a gente saiba o quão difícil é chegar lá.
Pois o desejo não depende apenas de seu talento e disposição.
O mundo (ou o destino) nos prega peças.
Meu objetivo também era ser jogador.
De campo ou salão.
Acreditava que estava no caminho certo.
Antes dos treinos na AABB ficava apreciando jogadores como Ivan, Xande, James e Altair (gente daqui que mais tarde fez história em grandes clubes do país).
Cheguei a disputar competições com o ginásio cheio.
Com meus pais e irmãos na arquibancada.
Uma emoção indescritível.
De repente, do nada, em 1986, fomos obrigados a mudar de bairro.
Do Água Verde para o Fidélis.
Seu Malinho, meu maior incentivador, tinha o hábito de trocar o dinheiro do aluguel pelas noitadas, regadas à cuba e violão.
Não sei o que seria de nós sem minha mãe.
Dona Irma conseguiu um terreno.
Na Vila Jonas Rosário Coelho Neves.
Que mais tarde ficou popularmente conhecida como Cohab.
O baque foi grande.
Para complicar, na Escola Pedro I, na Itoupava Central, não existia 5ª série à tarde (horário dos treinos na Ponta Aguda).
E agora?
Parar de estudar aos 14 anos de idade ou seguir fazendo o que mais gostava?
A decisão, devidamente acertada dos meus pais, mexeu com minha cabecinha.
Criou um bloqueio.
Nunca mais fui o mesmo.
Até fiz testes no BEC no Aderbal (solenemente reprovado).
Joguei no Alvorada (improvisado de lateral).
Bato a minha bolinha todas as quintas-feiras.
Estou inserido indiretamente no esporte.
Adoro o que faço.
Mas, a lembrança (ou a frustração) permanece até hoje.
Muitos pais transferem seus anseios para o filho.
Esperam que de alguma forma, esse vazio seja ocupado, que sua angústia acabe.
O erro, geralmente, é acreditar que apenas a genética pode ser suficiente.
Tive de inserir o Tales no futebol para dar razão à Oscar Schmidt.
Que só se tornou uma lenda do basquete porque treinou demais.
De maneira exaustiva.
Repetidamente.
Por isso, o título do seu livro: “Dom? Talento? Balela…”
O que garante que meu filho vai se tornar um atleta?
O fato de eu ter tido tendências na infância?
A Hereditariedade?
Muitos pais, em algum momento, devem olhar para a esposa grávida e pensar: esse moleque vai ser um craque!
Tá no sangue, no DNA…
No instante mágico do nascimento, cravar: ele vai ser um grande jogador!
Ou ainda observar suas primeiras feições e movimentos e vaticinar: esse menino vai me dar muito orgulho.
Acredito, sim, que nascemos com algum dote.
No entanto, a chance de dar certo só vai existir se essa aptidão for aprimorada.
Diariamente.
Repetidamente.
Por dois anos Tales fez aulas de futebol (particular) na sua creche.
Criei esperança.
Mesmo sabendo que aprenderia o básico.
Mas, a decepção foi grande.
Esperei completar 5 anos para inscrevê-lo no Planet Ball.
Uma vontade antiga, até pela amizade que temos com a família.
Um anseio concretizado ano passado.
Meu “jogador caro” chegou na quadra e mal sabia correr.
Muito menos chutar uma bola.
Com pouco mais de um ano nas mãos de Ricardo Leonetti vem mostrando evolução (são duas aulas na semana).
Sinceramente, tendo plena consciência que é muito cedo para jogar a toalha, acho que bola não é a dele.
Cheguei a imaginar que as artes marciais poderiam ser.
Só que ele encasquetou que não quer mais fazer jiu-jitsu.
Para a decepção do professor e de todos aqui em casa.
Tales sempre fala que quando crescer quer ser bombeiro.
Tomara!
Uma nobre profissão.
Não sendo jornalista, tudo bem.
No fim, reconheço, que terei grande parcela de culpa, caso minha aspiração não se concretize.
Primeiro por não insistir em acordá-lo para o “joguinho” de sábado.
Por deixá-lo ficar na cama até meio-dia.
Com pena.
Já que dorme tarde e acorda cedo todos os dias.
Por ter preguiça muitas vezes, aos domingos, de levá-lo para brincar na quadra do prédio.
Logo, a frequência não é a ideal para seu crescimento.
No fundo, por mais que seja difícil aceitar ou ficar alheio, quero mesmo é que se divirta.
Se tiver de ser, será.
Sem pressa.
Sem pressão.
Sem culpar o destino.
Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor do quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa.