A política de estoques públicos vinha sendo abandonada nos últimos governos. As reservas de arroz, que ainda eram de um milhão de toneladas há dez anos, caíram para 25 mil no início do governo Bolsonaro. A gestão do ex-presidente vendeu o que ainda restava e ainda fechou 27 armazéns no país, o que reduziu em 500 mil toneladas a capacidade de estocagem da Conab.
Para economistas ouvidos pelo UOL, a perda dos estoques públicos foi uma falha do Estado. Eles avaliam que as reservas de arroz, se existissem, poderiam não apenas ter sido distribuídas à população atingida pelas cheias, mas também evitariam ou reduziriam a necessidade de o Brasil importar agora, pagando mais caro.
Na década de 1980, durante a hiperinflação, o Brasil usou estoques públicos justamente para isso que o Lula quer agora: regular preço. Os estoques foram criados para garantir segurança alimentar no caso de uma quebra de safra, por exemplo, e também para o controle de preço. E hoje o governo não tem essa opção
José Guilherme Vieira, professor de economia da UFPR
Os estoques públicos foram pensados exatamente para eventos como essa enchente, ou seja, situações que possam gerar um problema de oferta interna. O governo poderia estar usando esse estoque para distribuição de alimentos à população desabastecida e também para evitar a necessidade dessa importação emergencial
Izete Bagolin, professora titular de Economia do Desenvolvimento e Serviço Social da PUC-RS
Preço impediu formação de estoque, diz governo
O governo anunciou, em junho do ano passado, que quer retomar a formação dos estoques. Até o momento, porém, o único produto que teve reposição foi o milho — passou de 50 mil toneladas, em janeiro de 2023, para 323 mil toneladas, em março de 2024, segundo a série histórica da Conab, que é vinculada ao Ministério da Agricultura.