Em entrevista exclusiva ao ge, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou que “vai acatar a decisão dos clubes” sobre a paralisação do Campeonato Brasileiro, mas deixou claro que vai alertá-los sobre os impactos dessa decisão no calendário e na economia do futebol.
Foi a primeira vez que o dirigente se manifestou desde que 11 clubes pediram a interrupção do torneio. O presidente da CBF afirmou que as decisões serão tomadas pelo Conselho Técnico convocado para o dia 27 de maio.
– Temos um calendário difícil, e a paralisação pode tornar tudo ainda mais difícil – declarou Ednaldo em Bangkok, na Tailândia, onde está para participar do Congresso da Fifa.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
ge: Como o senhor recebe o pedido de 11 clubes para paralisar o Campeonato Brasileiro?
Ednaldo Rodrigues: – Primeiro, reitero sempre a nossa solidariedade a todo o povo do Rio Grande do Sul, por tudo o que está passando. Sobre o pedido de paralisação, é interessante que possamos ouvir todos os clubes para definir. Isso envolve calendário, classificação para as competições sul-americanas e até a Intercontinental, caso um clube brasileiro ganhe a Libertadores. Não é tão fácil assim. Mas somos todos democráticos. Depois de colocar todos esses pontos para que eles definam, não tenho como ficar contrário [aos clubes] porque nossa gestão é democrática. Vamos mostrar o contraditório dessa paralisação, mas vamos respeitar a decisão dos clubes.
A CBF tem uma posição já previamente definida sobre isso?
– Quando a gente constrói uma competição, a gente reúne o Conselho Técnico e ali se decide início, término, quem ascende e quem rebaixa. A CBF tem a prerrogativa de fazer o adiamento [de jogos]. Porém, uma paralisação atinge por completo toda a cadeia produtiva do futebol. E aí é interessante que a CBF não tenha uma decisão monocrática, mas sim democrática. Nós sempre temos feito assim.
Existe algum programa de ajuda aos clubes do sul sendo preparado pela CBF?
– Logo quando iniciou toda aquela catástrofe no Rio Grande do Sul, a CBF procurou unir clubes, federações, atletas das seleções feminina e masculina, para não apenas sermos solidários, mas também buscar contribuir para amenizar o sofrimento das pessoas, das vítimas. Fizemos e está dando resultado. Nessa reunião [com os clubes] nós temos que não só falar de calendário, mas também que todos os clubes e todos os Estados possam dar uma contribuição. O Ministro do Esporte [André Fufuca], que também solicitou que houvesse a paralisação… Esperamos que possa haver alguma iniciativa do Ministério, para que coloque recursos que possam amenizar a vida dos entes queridos. E também das reformas de que carecem, de imediato, os estádios do Rio Grande do Sul.
O senhor vai estar com o Ministro aqui na Tailândia. Pretende falar com ele sobre o Campeonato Brasileiro?
– Sobre o Brasileiro, não. Vamos falar com os clubes, ouvindo todos de forma exaustiva e acatando a decisão da maioria. Mas sempre colocando: “Olha, temos um calendário difícil, e a paralisação de todos vai contribuir para ficar mais difícil ainda”. Vou dar só um exemplo do que acontece quando o Campeonato Brasileiro para. No Maracanã, principalmente quando joga o Flamengo, que tem uma média de público alta, emprega ali no momento 1.200 pessoas. Essas pessoas não estão na folha de pagamento do Flamengo. Mas fazem seu trabalho e recebem ali sua cota. Com essa cota dão sustento às suas famílias. Ele sai dali e vai no supermercado comprar os alimentos para que suas famílias não fiquem com fome. Temos que olhar por essa ótica também. Muita gente depende do futebol.
Existe alguma possibilidade de ser criada uma proteção esportiva aos times afetados, como por exemplo evitar o rebaixamento deles?
– Essa teoria eu não concordo. De imediato eu rechaço. Quando se faz uma competição, se obedece leis e princípios. E as competições têm interdependência umas com as outras. Quatro clubes sobem de divisão, quatro são rebaixados. Quem tem o bônus também tem que ter o ônus. Não se pode dizer “[um time] não vai ser rebaixado” se [o mesmo time] puder ser campeão. Fere os princípios da moralidade.