Entre os dias 10 e 15 de abril passado, dois eventos abalaram os mercados e elevaram os níveis de incerteza. Falo da divulgação do índice de inflação americana de março, muito ruim, e da desastrada mudança das metas fiscais no Brasil. Embora a dificuldade de atingir os resultados já fosse amplamente conhecida, a mensagem que ficou é a de fragilidade do arcabouço fiscal no seu primeiro teste.
Isso porque a despesa primária tem crescido ainda mais rapidamente que os tributos e o Congresso tem proposto e aprovado muitos projetos que elevam gastos ou reduzem contribuições sem qualquer preocupação com fontes de recursos. E nesse front nada ganha da inacreditável proposição de recriar a gratificação por quinquênio para o Judiciário, cujo patrono se apresenta como estadista.
O ministro Haddad e sua equipe têm agora o trabalho adicional de organizar e recompor o fluxo financeiro, considerando as novas legislações, a fim de mostrar como se projeta o resultado do ano.
A piora das expectativas implicou elevações nas projeções de inflação, especialmente para 2025. Isso levou o Banco Central a alterar seu discurso e ação, atropelando o “guidance” e reduzindo a taxa básica de juros, a Selic, em apenas 0,25 ponto porcentual.
Embora um ciclo de baixa de juros mais curto fosse esperado por todos, o comunicado da reunião foi muito ruim, sugerindo um racha entre diretores novos e antigos. A ata não conseguiu dissipar essa impressão completamente.Esperamos agora uma taxa de final do ciclo de 9,75%.
Acredito que o único alívio possível nesse cenário mais pedregoso deverá vir da inflação americana, pois espero uma queda significativa nos próximos dois meses. Nesse caso, voltará com força o cenário de corte de juros em setembro e o dólar se desvalorizará frente às outras moedas. O real, em consequência, deverá apreciar, aliviando as projeções de inflação.
Concomitantemente à piora no cenário econômico, estamos vendo uma sistemática queda na avaliação do governo, visto pela maioria como sendo desorganizado e com baixa capacidade de entrega.
Como até o Palácio do Planalto deve perceber isso, a questão que se coloca é o que fará o Executivo para reverter o quadro. Irá na direção de reviver a coalizão que o elegeu, inclusive aproveitando o desastre no Rio Grande do Sul para uma ampla ação cooperativa, ou irá dobrar a aposta num populismo de esquerda que alegra apenas o seu partido?Nesse segundo caso, o final da história não será bonito.