Quatro meses do ano já se foram e o balanço da economia emite sinais contraditórios. Para o consumidor, que em outubro comparecerá às urnas, a percepção da qualidade de vida parece mais negativa do que positiva.
A atividade econômica vai bem. O PIB avança ao ritmo de 2% ao ano, o que não é pouco, embora o governo Lula aposte em mais do que isso.
Nesta quinta-feira, foi divulgado o Balanço de Pagamentos do primeiro trimestre que registrou déficit de US$ 14,3 bilhões. Em 12 meses, o déficit das transações correntes está nos US$ 32,6 bilhões, o equivalente a 1,5% do PIB, algo mais baixo do que os US$ 49 bilhões de 2023. Mas este não é, em si mesmo, mau sinal. Mostra que as importações crescem mais do que o esperado, o mesmo acontecendo com as despesas de serviços (transportes, seguros, telecomunicações, viagens), e este é dado adicional de força da atividade econômica.
Outras informações que apontam para bom avanço da macroeconomia são: a força do agro, mesmo num ano de quebra de safras pelas mudanças climáticas; o salto da produção de petróleo; uma inflação anual que embica para abaixo dos 4,0%, apesar do aumento das adversidades externas e da alta do dólar e a escalada do preço dos alimentos; o desemprego na casa dos 7%, o que há muito não vinha acontecendo; o aumento da renda em consequência tanto do aumento do emprego quanto da distribuição de benefícios sociais; e, ainda, o bom encaminhamento da reforma tributária.
O mais negativo dos fatores negativos é, outra vez, o rombo das contas públicas. O arcabouço fiscal foi pro brejo, o governo já não garante superávit, antes tido como certo, e até mesmo a promessa de um déficit zerado em 2025 não é confiável. Mesmo com a queda do índice risco Brasil e com a sinalização favorável da agência Moody’s, a condução da política fiscal é flácida. O governo Lula prioriza a gastança neste ano eleitoral.
Esse é o principal fator que deve impedir o afrouxamento maior e mais rápido da política de juros do Banco Central, como quer o presidente Lula.
No entanto, a percepção geral do consumidor não consegue valorizar os pontos positivos. Prevalece a sensação de sufoco, de aumento das dívidas da família, em parte empurradas pelo crédito mais fácil, a alta dos preços dos alimentos da cesta básica e o ainda alto peso dos juros. O aumento da violência urbana tem reforçado a sensação de insegurança da população.
Não é verdade que o lado positivo da economia deixou de ter influência no psicossocial. Não fosse ele, o sufoco seria ainda mais pronunciado. O risco maior é o de que, pressionado pela busca de resultados eleitorais, o governo Lula enfie de uma vez o pé na jaca fiscal.