Eu não sei se o Senado terá uma maioria de “extrema-direita” em 2027. Mas sei que os que prepararam uma “pauta anti-STF” antes mesmo que os mandantes das ações golpistas tenham sido julgados por seus crimes se alinham e se aliam, objetivamente, com o golpismo. Nem mesmo esperaram a suposta maioria reacionária, que acreditam que virá, para tentar intimidar o tribunal. Que fique claro: o jornalismo que reporta essas conversas de bastidores faz o seu trabalho. E elas efetivamente existem.
Por isso estou entre aqueles que consideram que a vitória de Lula em 2022 constituiu um elemento importante de contenção da fascistização do país, mas que o perigo ainda nos ronda — a exemplo do que acontece em outras democracias mundo afora. As forças de desestabilização do pacto civilizatório instituído em 1988 têm encontrado aliados hoje até na chamada “grande imprensa” — sob o pretexto de garantia da pluralidade —, o que é um dado novo no país desde a redemocratização. Trata-se de uma regressão política, ética, moral e profissional.
No caso em tela, diga-se — o das desonerações —, uma das formas de dar trela a agentes disruptivos consiste em especular, como tem feito certo colunismo ou bêbado ou decrépito, que os cinco votos até agora havidos no STF em favor da liminar que suspende o texto inconstitucional e ilegal aprovado no Congresso é parte de um arranjo entre o Planalto e o tribunal, como se o exercício regular do direito fosse uma conspiração. É gente incapaz de ler uma liminar ou de compreender uma disposição constitucional ou legal. Fosse como querem, a única forma de os ministros provarem independência seria votando contra a Constituição e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Chegamos a um ponto em que só se demonstra isenção ignorando a ordem legal. A safadeza, nem poderia ser diferente, serve para alimentar as milícias digitais fascistoides.
Entreguemo-nos, pois, à vida e seu ofício. Eu não sei que composição terá o Senado em 2027. Sei que os ministros do tribunal não podem se impressionar. Do contrário, estariam se deixando intimidar por Corleones e Supranos de quinta categoria antes mesmo que uma maioria mafiosa dominasse o Senado. Chega de ameaças veladas!
Encerro com uma advertência a setores importantes da economia brasileira que ainda flertam com esses “patriotas”. Eis aí um projeto de Brasil: a crise permanente.
A serviço de quem?