Com a ascenção do ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) no mercado corporativo, esta pauta tem se tornado um fator de atenção também para os consumidores, embora ainda em uma escala muito menor. Na área bancária, no entanto, essa percepção parece ainda maior. Há uma clara percepção da influência que os bancos podem exercer em impulsionar a agenda de sustentabilidade nas companhias através da concessão de crédito, segundo estudo da Sherlock Communications.
O levantamento, que contou com a participação de 3.200 pessoas no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru, aponta que 80% dos latino americanos acreditam que os seus bancos deveriam contribuir com causas ambientais, considerando o poder econômico destas instituições e a influência delas no cenário econômico. Para os pesquisados, estes valores deveriam, inclusive, nortear as políticas de fornecimento de crédito, com 90% dos brasileiros afirmando que “as empresas que não tratam bem o meio ambiente” não deveriam ser elegíveis para empréstimos bancários. Apenas 6% dos entrevistados em toda a América Latina e 5% no Brasil dizem não se importar com a forma e a área que os seus bancos investem.
O uso do crédito é vista como uma das maiores ferramentas para a disseminação de boas práticas ambientais entre as empresas. No Brasil, 82% dos entrevistados afirmam que bloquear o crédito é uma excelente forma de exigir um melhor comportamento das companhias, com um forte apoio ao corte do crédito a algumas indústrias tradicionais:
“A pesquisa mostra que uma proporção significativa de latino-americanos acredita que seus bancos deveriam usar suas políticas de investimento para criar uma mudança no comportamento das empresas – e não apenas daquelas que estão claramente operando à beira da ilegalidade, mas também daquelas que estão ativas em indústrias que têm um impacto ambiental negativo”, afirma Pedro Gerhardt, sócio-gerente da consultoria de sustentabilidade Kaapora Finance.
Além de uma política alinhada com pautas ambientais, existe também a expectativa de uma maior transparência das instituições bancárias quanto aos investimentos feitos por elas – o que ainda não é uma realidade na percepção popular. No Brasil, 38% consideram a transparência importante, mas apenas 27% afirmam que os seus bancos já oferecem informações claras sobre o assunto.” Os números no Brasil vão de encontro com o que ocorre nos seis países latino-americanos pesquisados, já que 28% dos latino-americanos consideram receber informações claras e 9% consideram que as informações estão “escondidas em textos”.
Bancos que são pró-ESG podem se beneficiar
Com essa mudança na percepção dos consumidores, a expectativa é de que bancos que sejam pró-ESG consigam se beneficiar com a aquisição de novos clientes que buscam por estes valores também nas suas instituições bancárias – cenário que já vem se desenhando atualmente e deve ganhar ainda mais fôlegos próximos anos com a disseminação da pauta de mudanças climáticas e sustentabilidade em setores diversos da sociedade.
Cerca de 53% dos entrevistados no Brasil afirmaram que a escolha da conta bancária foi influenciada pelo desempenho socioambiental do banco e 75% dos entrevistados disseram que “mudariam de banco se soubessem de outra instituição com [melhores] prêmios de sustentabilidade e verificações”. Apenas 11 % dos brasileiros e dos latinos americanos disseram que não estariam interessados em transferir a sua conta para um banco com práticas de sustentabilidade mais fortes. “
“A mobilidade das contas aumentou na América Latina nos últimos anos, impulsionada pelas fintechs e pelas inovações regulatórias. Este levantamento mostra que os vencedores desta nova era de mobilidade bancária serão os bancos que tenham políticas de investimento fortes – e que consigam comunicar essas políticas de uma forma claro e digerível”, explica Gerhardt.
Com a possibilidade de abrir diversas contas em bancos de forma digital, apostar na sustentabilidade pode se tornar uma potencial de vantagem competitiva. ” Os bancos que não conseguirem abraçar este desafio terão dificuldade em manter as suas bases de financiamento de depósitos”, explica.