“A gente está vivendo um momento excelente.” É com esta frase e um sorriso largo no rosto que Roberto Oliveira, fundador e CEO da Blip, começa sua conversa com Época NEGÓCIOS. Antiga Take Blip, a plataforma de chatbots para empresas comemora os bons números alcançados em 2023: crescimento anual de 40% e receita anual recorrente acima de US$ 150 milhões.
Soma-se a isto o fato de ter atingido o break even e voltado a gerar caixa desde outubro. “Foi ‘back to the profitability’ que os investidores falam.” Oliveira conta que, com quase 25 anos de mercado, a empresa nunca tinha feito captação de recursos até 2020 – quando recebeu US$ 100 milhões num series A com o fundo global de private equity Warburg Pincus, seguido por um series B de US$ 70 milhões, em 2022. Antes disso, conta ele, a empresa sempre gerou caixa.
“Em 2020, começamos esse ciclo de investimento. 2021, 2022, início de 2023, a gente estava queimando caixa – mas eu nem gosto desse nome ‘queimando’, porque ele não reflete a realidade. Na realidade, a gente sabia o que estava fazendo”, explica o executivo.
Nessa fase do “crescimento a todo custo”, segundo ele, a empresa chegou a crescer a uma taxa superior a 100%. Agora, com um novo mindset no mercado, o foco passa a ser crescer, mas de forma sustentável. “Este ano a gente está com a expectativa de crescer pelo menos 40% novamente, mas sem abrir mão da rentabilidade.”
Surfando a onda da IA
Com forte aposta no WhatsApp e na Inteligência Artificial para criação de seus chatbots, a empresa vem surfando a atual onda de explosão da IA Generativa.
“Desde 2014, a gente decidiu apostar nessa ideia que a gente chama de contato inteligente, que é a marca dentro do WhatsApp. Houve um grande momento, em agosto de 2018, quando o WhatsApp abriu a API. E agora, desde novembro de 2022, com o advento do ChatGPT, realmente aquilo que a gente já vem apostando há um grande tempo está se tornando a próxima grande onda da indústria de tecnologia”, explica o executivo.
Próximo passo: expansão internacional
A força do WhatsApp também é uma estrada para a expansão internacional. Segundo Oliveira, a estratégia agora é fortalecer a presença da Blip em países onde o aplicativo de mensagens tem boa penetração.
Além do Brasil, a Blip já está presente em mais de 32 países e conta com escritórios na Cidade do México, no México, e em Madri, na Espanha. Parte dessa estratégia de expansão veio com a aquisição da empresa mexicana do setor conversacional GUS, em dezembro.
“Nossa expansão global está conectada à nossa chegada ao México e ao mercado Europeu. É um passo natural seguir para outros países latinos e o México consegue superar até mesmo o Brasil quando falamos em penetração do Mobile Commerce no e-commerce”, comenta ele. “Hoje a gente tem no México 60 pessoas, e na Espanha a gente vai chegar a 30 pessoas até o final do ano. E, através da Espanha, vamos estar cobrindo a Europa inteira.”
A empresa hoje possui mais de 1.500 funcionários e quase 4.000 clientes, como Itaú Unibanco, Coca-Cola, Stellantis, Claro, Hermes Pardini, BMG, Safra, PagSeguro, Empiricus e Dell.
Unicórnio e IPO
Além de se tornar uma empresa “camelo” – empresas que geram caixa em seus negócios -, a Blip também passou a fazer parte do grupo das empresas “centauros” – que faturam mais de US$ 100 milhões ao ano. O próximo passo é ser unicórnio?
Segundo relatório da plataforma de inovação Distrito, a Blip tem potencial para atingir o valuation de US$ 1 bilhão ainda neste ano. “Fico muito feliz de estar sendo reconhecido. Espero, com certeza, que na nossa próxima rodada a gente tenha um valuation acima de US$ 1 bilhão, sim. Na época da série B, faltou muito pouco para a gente chegar lá”, comenta Oliveira.
“O legal de estar nessa posição, de estar crescendo com rentabilidade, é que eu tenho a opção de fazer uma nova rodada, caso seja do nosso interesse, caso tenha condições favoráveis”, explica o executivo. “A gente quer estar pronto para, assim que surgir uma oportunidade e a gente achar que faz sentido, avaliar e, eventualmente, fazer novas captações. E, com certeza, no médio prazo, também estar pensando num IPO ou numa saída estratégica”, conclui.