A decisão do Copom marcou uma divergência que não ocorria há 11 anos. Pela primeira vez desde abril de 2013, o presidente do Banco Central e o diretor de política monetária votaram de forma diferente. Enquanto o presidente Roberto Campos Neto votou pela redução de 0,25 ponto percentual (acompanhado pela maioria), o diretor Gabriel Galípolo defendeu um corte maior, de 0,50 p.p. A votação terminou 5 a 4, e a Selic foi reduzida de 10,75% para 10,50%.
Na última divergência, em abril de 2013, o então presidente, Alexandre Tombini, votou pela elevação da Selic de 7,25% para 7,50% (acompanhado pela maioria), enquanto o diretor de política monetária à época, Aldo Luiz Mendes, preferiu a manutenção. A votação terminou em 6 a 2.
Ao longo desses 11 anos, o Copom se dividiu nos votos em algumas oportunidades, como em outubro de 2014, em março de 2016 e, na última vez, em agosto do ano passado. Nesta última, porém, Campos Neto e Galípolo estiveram alinhados. Foi a primeira reunião com Galípolo, e na ocasião o BC voltou a reduzir a Selic depois de três anos, em 0,5 p.p., para 13,25%.
Galípolo foi indicado pelo governo Lula para a diretoria de política monetária, assim como os outros diretores que votaram pelo corte mais arrojado: Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira. Os demais, indicados no governo de Jair Bolsonaro, votaram pelo corte menor, e o desempate coube ao presidente da autoridade monetária.
A leitura do mercado não será somente sobre a decisão dos juros em si, mas sobre essa divisão de placar. Economistas viam motivos para justificar tanto um corte de 0,25 quanto 0,5 ponto neste momento, ainda que os investidores já tivessem corrigido suas apostas para o ajuste em menor magnitude. Mas, como Galípolo é o favorito para suceder Campos Neto e há receio entre economistas e investidores da adoção de uma postura mais tolerante à situação fiscal e flexível no caminho à meta de inflação, com concessões à pressão política, as decisões seguem sob lupa.
Até a transição na presidência do BC, há mais cinco decisões do Copom.