Os Estados Unidos são a maior economia do planeta, com 22% da produção global, 20% do estoque de investimento estrangeiro direto e 10% do fluxo de comércio. Como o dólar é a moeda mais usada em transações financeiras, mudanças na política de juros americana reverberam por todos os continentes. Pelos cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o aumento de 1 ponto percentual na taxa de juro de longo prazo nos Estados Unidos tende a provocar nos meses seguintes a mesma alta em países emergentes e de 0,9 ponto percentual noutras economias avançadas. Por isso, quando o presidente do banco central americano — o Fed — fala, as autoridades monetárias de todo o mundo param para ouvir.
Jay Powell, atual presidente do Fed, fez nesta semana uma declaração que terá impacto nas perspectivas econômicas de todo o mundo. Primeiro, ele reconheceu o que todos já imaginavam: afirmou que o objetivo de levar a inflação americana para a meta de 2% levará mais tempo que o previsto. Isso significa que a atual taxa de juros praticada pelo banco para tomar dinheiro emprestado, entre 5,25% e 5,5% desde o ano passado — a maior dos últimos 23 anos —, será mantida por mais tempo, até mais perto do final do ano.
Não chegou a ser novidade. Os mercados financeiros já haviam percebido que os cortes não viriam no primeiro semestre, como se imaginava no final do ano passado (foi essa, por sinal, a principal causa para a valorização do dólar diante do real e de outras moedas). O trecho mais importante da entrevista de Powell veio depois. Ele afirmou ser improvável novo aumento dos juros. A redução prevista para novembro iniciará, portanto, novo ciclo de queda. Apenas essa frase acalmou quem previa mais aperto e despertou otimismo.
No caso do Brasil, isso não significa que o governo possa ser mais leniente do que tem sido. Com a ajuda do Congresso, o Executivo tem o dever de promover o ajuste fiscal necessário, adotando um programa robusto e consistente de corte de gastos. Só cumprindo as metas fiscais será possível recobrar a confiança do mercado e deter a trajetória de alta na dívida pública. Se a atitude de Executivo e Legislativo fosse outra, levando em conta todas as circunstâncias comerciais e financeiras, economistas estimam que o dólar estaria cotado ao redor R$ 4. A incúria fiscal tem custado 25% do valor do dinheiro que o brasileiro carrega no bolso.
Executivos de diferentes setores tomam decisões de investimento levando em conta projeções dos juros de longo prazo. Trabalhar para baixar essas taxas, mudando a trajetória de alta da dívida pública, está ao alcance do Executivo e do Legislativo. O governo deve reafirmar o compromisso com as metas fiscais a partir de atos concretos. No Congresso, as lideranças podem convencer a opinião pública de que não são favoráveis ao déficit desarmando “pautas-bombas”, destinadas a favorecer grupos específicos. O investimento no Brasil depende não apenas do cenário lá fora, mas acima de tudo da confiança no que se faz aqui dentro.