A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reduzir o ritmo de queda dos juros não chegou a ser uma surpresa para o mercado – ainda que também não tenha sido motivo de qualquer comemoração. O que trouxe preocupação foi a divisão política no interior do corpo que deveria por dever de ofício ser de viés técnico.
Na quarta-feira, a Selic foi reajustada de 10,75% ao ano para 10,5%. Após seis quedas seguidas de 0,5 ponto percentual, o comitê foi mais comedido: 0,25 ponto percentual de corte.
O setor produtivo sente os efeitos do fato de o Brasil ainda estar entre as maiores taxas reais de juros do planeta, em um grupo que inclui México, Rússia, Colômbia e Turquia, países que enfrentam situação econômica atual bem mais crítica. Investimentos necessários para o desenvolvimento enfrentam as barreiras de crédito caro e condições fiscais mais atraentes no exterior. Assim, a geração de receitas, tributos e empregos não cresce na medida do necessário para sustentar o crescimento.
Do ponto de vista político, há uma pressão do Planalto por boas notícias para apresentar à população e ganhar trunfos que possam ser usados em seu favor nas duras negociações no Legislativo Nacional e nas eleições municipais que se avizinham. Contudo, o momento atual não combina com medidas que visem interesses de partido X ou Y.
As tragédias climáticas no Sul do país demandam gastos públicos extraordinários – aprofundando o risco fiscal sinalizado pelo relaxamento de metas anunciado pelo ministro Fernando Haddad nesta semana – sem falar nos impactos sobre a produção agrícola e, consequentemente, nos preços dos produtos ao consumidor. O que na prática é mais inflação despontando no horizonte.
O Brasil não pode se render a soluções oportunísticas em economia. Deixar os interesses político-eleitorais se sobreporem à economia no Banco Central é um risco desnecessário e potencialmente lesivo para os bolsos e os empregos dos brasileiros. Baixar juros, sim, é necessário, desde que feito com foco no bom futuro para o país.