O acesso à educação possibilitou com que eu chegasse à cadeira número um, como CEO de multinacionais de marcas conceituadas, e hoje, como conselheira administrativa e presidente do Conselho de Administração do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Sempre compartilho com vocês os caminhos que me conduziram até aqui, e não tenham dúvidas, a educação fez parte da minha formação e transformação profissional.
Tenho orgulho da minha trajetória e de todo aprendizado que adquiri no meio acadêmico, em cursos de especialização e também com mentoras e mentores com que tive e tenho o privilégio de trocar experiências e vivências até hoje. Porém, pensando a partir de dados, percebo que percursos como o meu ainda estão longe do cenário ideal.
Somos mais de 203 milhões de brasileiros, e a taxa de analfabetismo segue alta. A tecnologia, por exemplo, faz com que se tenha mais caminhos de acesso. No entanto, a desigualdade social ainda é uma questão à qual precisamos estar atentos, a fim de que a educação, em todos os seus estágios, não seja tratada como um produto, destinada apenas a quem tem recursos financeiros.
No dia 28 de abril de 2000, instituiu-se o Dia Mundial da Educação, iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), durante o Fórum Mundial de Educação, na cidade de Dacar, no Senegal. O evento buscou pensar sobre o desenvolvimento da educação e selou o compromisso de líderes de 164 países com essa pauta, incluindo o Brasil.
Passados mais de 20 anos, ressoa, contudo, a pergunta: o quanto avançamos desde então? Como falar de formação profissional e empregabilidade sem fomentar um debate sério referente à ausência de possibilidades para futuros talentos?
Como comenta Viola Davis, atriz estadunidense, as oportunidades ou a falta delas são o que nos separa. Garantir que todas as pessoas, sem distinção de classe social, gênero ou raça, tenham acesso à educação digna, libertária e consistente corresponde ao início de um avanço rumo à erradicação da pobreza e ao crescimento econômico do país.
Vejam: segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2022, apenas 53,2% dos brasileiros com 25 anos ou mais concluíram o ensino médio, e só 19,2% completaram o ensino superior.
Entre as razões para esses números, há a necessidade financeira, que coloca grande parte da população em trabalhos informais durante o período educacional, e com isso se dá a evasão escolar, que se deve, em grande parte, à falta de fomento e execução de políticas públicas, e a leis que não são colocadas em prática.
Onde estão os talentos?
O mercado de trabalho evidencia a falta de profissionais em determinadas áreas e também a falta de preparo dos jovens, pois saem da educação básica sem desenvolver as habilidades necessárias. Estamos diante da geração que nasceu na era tecnológica e, com isso, podemos vislumbrar novos trajetos profissionais. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Indeed em 2023, há escassez de profissionais para as áreas de finanças, desenvolvimento mobile, administração, informática, radiologia, engenharia, biocombustíveis e vestuário.
Precisamos contar com políticas públicas efetivas, maiores investimentos e uma sociedade engajada para mudar o cenário educacional no Brasil e fazer valer a democracia. Ter acesso à educação, e às oportunidades que surgem por meio dela, configura uma rota saudável para que novos talentos se construam e, consequentemente, seja estabelecido um modelo de crescimento econômico, uma economia positiva baseada na formação integral (não apenas profissional) dos indivíduos.
Futuro
Para um futuro próximo, o que podemos fazer? A empregabilidade é, a meu ver, um dos caminhos para combater a evasão escolar, além da orientação da juventude no sentido de apresentar as possibilidades existentes, criando incentivos para o fortalecimento de uma cultura afeita aos estudos. Lutemos para que jovens periféricos não precisem mais escolher entre a escola e o trabalho, mas sim tenham ferramentas e auxílio capazes de os manterem enquanto estudantes, com seus direitos básicos garantidos.
Contribuir para a retenção de alunos, bem como estimular a empregabilidade equivalem a ações formadoras de uma missão coletiva. Precisamos compreender a educação de modo completo: além da ligação com o âmbito profissional, devemos entender o processo educacional enquanto um lugar, físico e simbólico, de construção de saberes e potencialização de pluralidades, contemplando a todos na dinâmica de aprendizagem.