Precisamos conquistar apoio popular demonstrando como nossa greve também é parte da luta para que o conhecimento que produzimos esteja a serviço de combater e evitar tragédias capitalistas, como a que vemos hoje no Rio Grande do Sul. A greve solidária dos técnicos administrativos da UFRGS e as inúmeras iniciativas organizadas pelos estudantes e trabalhadores das universidades são um verdadeiro exemplo porque apontam um objetivo em comum: fazer os capitalistas pagarem pela crise na educação e a crise ambiental que eles mesmos provocaram.
O governo mantém sua intransigência, depois de mais de 2 meses de greve dos técnicos e quase 1 mês de greves docentes e estudantis o MEC sequer aceitou sentar nas mesas de negociação. Nessa última semana, o governo Lula-Alckmin convocou para negociação apenas a categoria docente, buscando isolar os técnicos e dividir a luta da educação federal. Não aceitamos nenhum divisionismo, nossa luta é uma só! A proposta do governo foi bastante vergonhosa e demagógica aos docentes, mantendo o reajuste de 0% para o ano de 2024, tentando aumentar alguns benefícios e propondo um aumento de 31% até 2026, mas que na realidade não muda nada no orçamento da educação, nem no Arcabouço e os salários logo ficarão defasados novamente. Muitos professores estão denunciando profundamente essa proposta, apesar do PROIFES (sindicato pelego) indicar que quer assinar a proposta até o dia 27, o que levaria a uma divisão ainda maior na categoria e com a base do ANDES. A posição do ANDES-SN ainda é dúbia sobre a proposta. A única maneira de fazer o governo retroceder e lutar pela unidade de todos os setores em luta pela educação pública e federal, é ela que pode arrancar vitórias!
O mesmo governo Lula-Alckmin que se nega a reajustar os salários e que mantém os ataques à educação, é o que durante a nossa greve prefere conceder ao bolsonarista Tarcísio de Freitas ⅓ das verbas do BNDES, para que ele pudesse levar a frente seus planos privatistas, enquanto a polícia paulista protagonizava uma das maiores chacinas da história do país, deixando um rastro de sangue negro e operário na Baixada Santista. Em mais uma demonstração das prioridades da frente-ampla e como é a política de conciliação do governo que abre espaço para a extrema-direita.
Os trabalhadores da educação são a principal categoria federal do país, e juntamente com es estudantes, podem cumprir um papel central na luta pela revogação do Arcabouço Fiscal, o novo teto de gastos a serviço de manter o pagamento da dívida pública, que sufoca ainda mais o orçamento da educação, abrindo espaço para privatizações e mais precarização. Dentro das universidades as reitorias aprofundam esse cenário, administrando os cortes e aprofundando a precarização, que é sentido por todes, em particular os trabalhadores terceirizados.
O Arcabouço Fiscal faz com que 46% do orçamento deste ano seja destinado ao pagamento da dívida pública. Já os gastos com serviços públicos são irrisórios. A dívida que é uma verdadeira bolsa banqueiro, e também é responsável por aprisionar recursos que deveriam ir para o RS, destina a maioria do dinheiro para os interesses dos empresários ao invés de responder às demandas da população diante da catástrofe capitalista.
Para conseguir propor medidas em comum nesse momento decisivo precisamos eleger representantes de técnicos, professores e estudantes, que possam ser delegados de um Comando Nacional com representantes eleitos e revogáveis desde a base em assembleias, permitindo que aqueles que todos os dias constroem a greve possam estar representados nesse organismo que deve coordenar e dirigir a greve unificando nossa luta com a bandeira da revogação do Arcabouço Fiscal.
Esse comando é uma forma de fortalecer a auto-organização dos trabalhadores e estudantes desde a base, se contrapondo a que os rumos da greve sejam decididos somente pelas burocracias sindicais e estudantis, que na maioria das vezes são compostas por partidos que estão no governo e atuam para dividir a nossa luta, com atividades dispersas e sem articulação de espaços unificados.
Um exemplo disso é como a CUT ao invés de fortalecer a luta dos técnicos administrativos no dia 21 de maio em Brasília, convocou um outro ato de todo funcionalismo para o dia 22, dividindo abertamente o conjunto da categoria daqueles que estão protagonizando hoje a principal greve do país.
A burocracia majoritária da UNE abertamente atua para isolar os setores em greve estudantil, sequer postando apoio em sua página, e praticamente não fala nada da luta de técnicos e docentes. Organizações como Afronte, Juntos e Correnteza, dirigem importantes DCEs e votaram contra a greve ter no centro a bandeira da revogação do arcabouço fiscal na UFMG e UFF. Na UNB fizeram de tudo para impedir que fosse deflagrada uma greve em toda universidade, mesmo com mais de 14 cursos deliberando greve, manobrando a votação de greve para “estado de greve” e desmobilizando iniciativas des estudantes como a ocupação de um prédio que ocorreu na última quinta. Na UFMG a greve vai completar um mês na próxima semana e o DCE, dirigido pelo PSOL que é parte do governo federal, segue se recusando a convocar assembleias de base para que es estudantes possam decidir os rumos da sua luta.
Os exemplos da UFRGS são a demonstração do potencial que as universidades têm. Nossa greve é parte da luta por valorizar aqueles que dedicam suas vidas para que possamos produzir conhecimento e combater o negacionismo da extrema-direita. Um potencial que cada vez mais perde sua força diante da desvalorização dos trabalhadores que fazem a universidade funcionar e dos cortes que respondem a um projeto neoliberal e capitalista da educação pública.
Os cortes que começaram no governo Dilma, foram intensificados com o golpe institucional e pelo bolsonarismo e não somente são mantidos pelo governo Lula-Alckmin, como são aprofundados pelo Arcabouço Fiscal.
Nossa luta é para que ao invés de produzir pesquisas para o agronegócio que destrói o meio-ambiente e produz catástrofes ambientais, ou para empresas como a assassina Vale responsável pelo maior crime de acidente de trabalho do mundo que também é um dos maiores crimes ambientais da história, possam voltar toda sua produção de conhecimento para responder às necessidades da população pobre e trabalhadora.
Por isso, também questionamos que as universidades sejam espaços cada vez mais fechados para os filhos da classe trabalhadora, com o filtro social e racial do vestibular, o ENEM e a falta de permanência estudantil, com a precarização do trabalho docente e administrativo e com a ampliação da terceirização. Queremos o conhecimento que produzimos a serviço de construir soluções ecológicas para reconstruir o RS e para evitar novos desastres como esse em todo país, como foram os crimes da Vale em Mariana e Brumadinho, as enchentes no RS e Maranhão.
Nós, estudantes, técnicos e docentes fomos linha de frente do combate à extrema-direita bolsonarista e negacionista, e a cada dia fica mais evidente como a política de conciliação do governo Lula-Alckmin vem fortalecendo a extrema-direita em todo país, mas com a nossa greve podemos construir uma alternativa independente e na luta de classes.
Estivemos lado a lado dos trabalhadores em greve desde o 1º dia, e também batalhando para que estudantes e nossas entidades construíssem ativamente uma greve nacional unificada da educação federal. Por isso, também estaremos lado a lado dos técnicos administrativos em Brasília. Defendemos essa proposta de Comando como forma de fortalecer o poder de decisão e a auto-organização daqueles que estão todos os dias batalhando para construir essa greve tão importante. Disputando que nossas entidades sindicais e estudantis estejam a serviço de fortalecer a nossa luta nesse momento decisivo. Colocamos o Esquerda Diário à disposição destas batalhas, assim como fazem nossos companheiros no movimento operário, que constroem o Nossa Classe.
Como parte da Faísca Revolucionária, queremos que a força do movimento estudantil que se levanta em diversos países do mundo na defesa do povo palestino contagie a nossa greve, para questionarmos os convênios das nossas universidades com Israel, mas também para demonstrar o potencial que a nossa luta pode ter ao lado dos trabalhadores.
Não somos a geração que vai ver o fim do mundo, somos a geração que vai lutar contra os capitalistas e seus governos para barrar o desastre capitalista colocando nosso conhecimento a serviço da classe trabalhadora e de toda população pobre e oprimida!