Em Eldorado do Sul, região metropolitana de Porto Alegre, a água baixou e revelou um cemitério de carros
Nesta sexta-feira (10), as águas baixaram em Eldorado do Sul, revelando sinais de uma cidade que nunca mais será a mesma. O pátio do Detran ressurgiu como um cemitério fantasma. Carros, ônibus e caminhões: agora são sucata. Alguém circula em uma rua seca e arrasada. Em outras, ainda tem água pelas canelas, pelos joelhos e pela cintura. Gente vagando em busca do que sobrou.
O autônomo Paulo Moacir entrou na casa dos filhos. Recuperou uma TV e resgatou dois passarinhos e uma tartaruga.
“Resgatar as coisas que deu, tentar. Está tudo perdido, né. Aqui não recupera nada mais”, diz ele.
Mas a chuva voltou e a temperatura caiu. Em Porto Alegre, voluntários correram contra o tempo para levar gente isolada até lugares secos e aquecidos. Um homem na cadeira de rodas estava no oitavo andar. Foi carregado pelas escadas e retirado de barco. O casal de idosos aceitou a ajuda, e ela quer ter certeza de que seguem juntos.
E o socorro às pessoas continua depois dos resgates. As doações reforçam os depósitos de roupas, água e comida.
“Vem de Santa Catarina, vem do estado do Rio Grande do Sul, do interior, do Rio de Janeiro, do Paraná, enfim, diversas doações de vários estados do Brasil”, diz o tenente-coronel Camilo Augusto de Lima Mota, comandante do 9º Regimento de Cavalaria Blindado.
Apesar de as águas estarem baixando, muitos lugares ainda estão inundados. Os caminhões não passam em várias ruas. Por isso, o Exército decidiu usar um carro de combate, o Guarani. Em tempos de guerra, ele transporta tropas. Na enchente, ele leva ajuda.
O soldado confere os pedidos de socorro distribuídos pela Defesa Civil e vai até quem precisa. Isabele não quer sair; quer comida e água. Tem mais gente na casa.
“Tem uma senhora de idade aqui também. Ela não quer de jeito nenhum. Eu também não vou sair por causa dos bichinhos”, diz ela.
O industriário Arami Prestes está refugiado com a família na casa do cunhado. Pede água aos soldados.
“(A água) É muito importante. Isso aqui é vida”, diz ele.
Algumas garrafas vieram de Curitiba. Mais uma doação que fez diferença.
“Nosso coração fica apertado. Que Deus abençoe essas pessoas. Que possam ser recompensadas. Não só a mim, mas esse povo todo que está sofrendo neste momento”, acrescente Arami.