O Sul do Brasil se prepara para a chegada de novas chuvas e temperaturas mais frias que ameaçam aprofundar a crise criada pelas enchentes históricas que inundaram a região.
A previsão é de que até 300 milímetros dde chuva caiam em partes do estado do Rio Grande do Sul até o final do fim de semana, estima o serviço meteorológico nacional do Brasil, potencialmente agravando as enchentes que deixaram pelo menos 116 mortos, mais de 337 mil desabrigados e cerca de meio milhão sem eletricidade ou água potável.
É o mais recente grande desastre natural a atingir o Brasil, um país que tem enfrentado tempestades e eventos climáticos cada vez mais intensos. O Rio Grande do Sul, um importante centro agrícola onde vivem 11 milhões de pessoas, enfrentou inundações diversas vezes no ano passado, e estimativas preliminares da Enki Research sugerem que o custo económico da crise atual poderá atingir US$ 2,5 bilhões.
Mas as autoridades alertaram que só será possível avaliar a dimensão total da tragédia depois de as águas das cheias baixarem e concentraram os seus esforços na mitigação dos danos que as chuvas adicionais poderão causar.
As piores enchentes do Brasil em 80 anos deixam dezenas de mortos e desaparecidos, e ruas inundadas após fortes chuvas em Porto Alegre.
Alguns municípios ordenaram evacuações face ao agravamento das previsões, enquanto as autoridades locais fecharam estradas e pontes que consideraram em risco de colapso. O governador do estado, Eduardo Leite, alertou na sexta-feira os moradores contra a tentativa de retorno às suas casas.
“Há uma perspectiva de que as chuvas façam com que o nível dos rios suba novamente”, disse Leite durante entrevista coletiva. “É por isso que apelamos às pessoas para que não retornem às áreas de risco.”
O desastre deu início a um esforço nacional para entregar ajuda ao Rio Grande do Sul, o estado mais ao sul do país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajou para a região no domingo passado, revelou na quinta-feira um pacote de ajuda no valor de 50,9 bilhões de reais (9,9 bilhões de dólares), ao mesmo tempo em que se comprometeu a implementar medidas adicionais na próxima semana.
Isso provavelmente incluirá ajuda para trabalhadores informais – como motoristas de Uber e vendedores ambulantes – que requerem atenção especial porque não se beneficiarão das disposições do pacote original, de acordo com uma pessoa familiarizada com os planos que pediu anonimato para discutir assuntos internos.
Na noite de sábado, o governo federal publicou um decreto autorizando a liberação imediata de 12 bilhões de reais em recursos orçamentários para atender vítimas na região.
Em todo o país, equipas de voluntários reuniram pacotes de alimentos, água e itens básicos para enviar para a zona, onde a água corrente não chega a muitas casas e o pouco que está disponível foi encaminhado para hospitais. Os supermercados restringiram as vendas a 5 litros por pessoa, por dia, para evitar o colapso total do abastecimento de água.
Os moradores locais – muitos dos quais foram expulsos de suas casas – também estão correndo para ajudar uns aos outros, num momento em que o fechamento das principais rodovias e do aeroporto internacional de Porto Alegre dificultaram a entrega de ajuda em um estado que é maior que o Reino Unido.
LEIA MAIS: Como os desastres climáticos entram nas contas dos economistas
As autoridades da Defesa Civil resgataram Fábio Praxedes de sua casa às margens do transbordante Lago Guaíba no último sábado. Desde que se mudou para a casa dos pais, ele se juntou às operações de busca de mais de 140 pessoas que ainda estão desaparecidas.
Juntamente com amigos e familiares, Praxedes disse que agora passa todos os dias a preparar 1.500 almoços embalados para entregar aos vizinhos numa área onde os mercados e lojas estão quase todos fechados.
Danos Econômicos
As enchentes mobilizaram o governo Lula e a nação. Entretanto, oanalistas procuram pistas sobre como esse evento afetará a maior economia da América Latina como um todo.
O Rio Grande do Sul, um grande produtor de arroz, soja, aves e suínos, é responsável por cerca de 6,5% do produto interno bruto do Brasil, e as inundações fecharam temporariamente fábricas, fábricas de processamento e grandes empresas em todo o estado.
A XP Asset já reduziu sua estimativa de crescimento para o Brasil em 2024 de 2,4% para 2,1% por causa da crise, ao mesmo tempo em que alertou que o impacto pode aumentar se o setor agrícola do estado sofrer.