Desde 2004, 17 de maio foi a data escolhida para ser o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. Por isso, especialmente hoje, nós escolhemos a data para contar a história por trás uma das músicas mais representativas dessa luta: Flutua, de Johnny Hooker.
Sobre o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia
A data de 17 de maio foi escolhida especificamente porque foi o dia em que, em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS), tomou a decisão de desclassificar a homossexualidade como um transtorno mental em sua Classificação Internacional de Doenças.
O objetivo da data é chamar a atenção de formuladores de políticas, líderes de opinião, tomadores de decisão, movimentos sociais, corporações, público, autoridades e mídia para questão da violência e discriminação sofridas por lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e todas as outras pessoas com orientações sexuais diversas, identidades ou expressões de gênero e características sexuais.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até o maio do ano passado, 67 países ainda criminalizavam as relações entre pessoas do mesmo sexo, e – em alguns deles – há até pena de morte.
Além das discriminações legais, as violências da homofobia, bifobia e transfobia servem para negar diariamente a milhões de pessoas em todo o mundo a sua existência, dignidade e direitos.
Atualmente, o 17 de maio é comemorado em mais de 130 países, incluindo 37 onde relações entre pessoas do mesmo sexo são consideradas ilegais e são criminalizadas. Neste dia, todo anos, milhares de iniciativas e eventos, grandes e pequenos, são relatadas ao mesmo tempo em todo o planeta para reforçar a importância da data. Conheça a página oficial do evento.
A cada ano, há um tema central a ser trabalhado, chamado de “questão de foco global”. O tema de 2024 é “Ninguém deixado para trás: Igualdade, Liberdade e Justiça para todos (livre tradução)”.
O mundo acaba de celebrar o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento que diz que“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Mas, o que se sabe é que esta éuma promessa ainda não cumprida – para as pessoas LGBTQIAP+ em todo o mundo.
Por isso, o tema deste ano é um apelo à unidade: só através da solidariedade mútua criaremos um mundo sem injustiça, onde ninguém será deixado para trás.
A história da música Flutua, de Johnny Hooker
No canal da Novabrasil no Spotify, temos uma playlist criada exatamente com o foco nesta data de 17 de maio, com músicas brasileiras que falam sobre o Orgulho LGBTQIAP+.
E, entre essas músicas, escolhemos uma em especial para contar a história por trás da sua composição no dia de hoje. Trata-se de Flutua, do cantor, compositor, ator e roteirista pernambucano de 36 anos, Johnny Hooker.
Johnny Hooker contou em entrevistas que alguns fatores o influenciaram na composição do hit Fiutua.
Primeiro, ele conta que a música que ele acha mais bonita no mundo inteiro é Heroes, de David Bowie em parceria com Brian Eno, lançada por Bowie, em 1977.
A música dos britânicos foi inspirada em um beijo entre um casal (heterossexual) apaixonado, nas proximidades do Muro de Berlim, na época em que o país vivia dividido pela Guerra Fria, e trás uma reflexão sobre como nós podemos ser heróis da nossa história, pelo menos por um dia que seja, e derrubar os muros entre nós.
Johnny Hooker, no seu primeiro disco – Eu Vou Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito! – achava que já tinha falado muito sobre o fim do amor, as dificuldades do amor, e sobre quando o amor dá errado.
E no seu segundo disco, o artista queria falar mais sobre o triunfo e a vitória do amor, sobre quando o amor dá certo. Sobre quando duas pessoas se amam, apesar de tudo, apesar de todos. Uma celebração ao amor.
Nesta época, ele estava morando no Rio de Janeiro, tinha ido ao cinema, e viu pela rua muitos casais homoafetivos andando de mãos dadas pelas ruas e pensou que podíamos estar vivendo um novo momento. E essas imagens o fizeram lembrar de um filmebritânico, que Johnny assistiu quando ainda estava na pré-adolescência e que o marcou muito, chamado Delicada Atração.
Lançado em 1996, o filme fala sobre a relação afetiva entre dois meninos, de uma perspectiva bastante adolescente, de uma maneira muito bonita, sobre como é ser um LGBT adolescente.
Hooker lembra de ficar muito impactando em ver aquela história de amor ser contada daquele jeito em um filme, e animado com a perspectiva de ter uma representação positiva de relações homoafetivas no cinema, em uma época em que acontecia a explosão dos casos de HIV e AIDS no mundo e a maioria das representações estavam ligadas ao contexto de doença, morte e epidemia.
Vale lembrar que o HIV e AIDS naquela época eram ligados de forma totalmente errônea e preconceituosa ao que os conservadores chamavam de um “câncer gay”.
A cena final de Delicada Atração, em que o casal de protagonista dança no pátio do conjunto habitacional em que moravam, ao som da banda estadunidense The Mamas and The Papas foi a primeira lembrança e o ponto de partida que inspirou Johnny Hooker a começar a compor Flutua.
O artista conta que a letra da música é totalmente inspirada neste momento: “Ninguém vai poder querer nos dizer como amar”.
Quando foi gravar Flutua para o seu segundo álbum, Coração, de 2017, Johnny pensou que não havia ninguém melhor para acompanhá-lo neste dueto do que Liniker. Ele assistiu a cantora e compositora se apresentando em um Festival em que ambos estavam se apresentando e pensou que Liniker, quando canta, flutua, fica suspensa no ar.
Não deu outra: Flutua tornou-se uma das mais incríveis gravadas na história e o videoclipe da canção também é uma obra-prima!
Johnny Hooker conta também que é muito interessante notar que, além de tornar-se um hino para toda a comunidade LGBTQIAP+, trilha de histórias de amor e casamentos homoafetivos, Flutua também ressoa muito em casais heterossexuais e de todos os tipos, por ser uma música que fala da superação dos obstáculos do amor. Pois, toda história de amor, independente da configuração, em algum momento por passar por suas dificuldades.
Curioso é que soube-se, tempos depois do lançamento da música, que o casal apaixonado que se beijava em frente ao Muro de Berlim e inspirou Heroes, também vivia uma paixão proibida: era o produtor do álbum de David Bowie, Tony Visconti, e sua amante, uma alemã que ele conheceu enquanto estavam no país gravando o disco, enquanto ainda era casado.
por Lívia Nolla