A data foi instituída em 1990, mas muito ainda precisa ser feito para garantir o pleno exercício da cidadania pelas comunidades LGBTs
Pedro desde de criança se sentia diferente e foi com 12 anos de idade, na década de 1990, que teve sua primeira relação com meninos. No entanto, naquela fase da vida esse comportamento era visto como “normal, coisa de criança que logo passa”. Só que para Pedro não passou. Com 15 anos, ele foi levado pela família para uma psicóloga que, em outras palavras, prometia a “cura gay”. O garoto cresceu totalmente reprimido e foi preciso seu pai morrer para que ele pudesse viver sua sexualidade, No entanto, 30 anos depois ele ainda tem sequelas da repressão que sofreu.
Pedro foi vítima da “cura gay” nos anos 90, quando a homossexualidade já havia deixado de ser considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi exatamente no dia 17 de maio de 1990, há exatos 34 anos, que a homossexualidade deixou de ser considerada patologia pela OMS, o que deu origem ao Dia Internacional Contra a Homofobia. E a partir da criação desta data, muitos avanços ocorreram na sociedade.
A pesquisadora, mestranda e artista visual trans Joanna Leoni, de Brusque, diz que é importante comemorar a decisão de retirar a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças da OMS, mas diz que a sociedade não pode esquecer que foi no dia 15 de maio de 1992 que surgiu o nascimento da Associação de Travestis e Liberados (Astral), no Rio de Janeiro.
“Foi a primeira organização não governamental (ONG) do tipo na América Latina e foi a base para a criação do Movimento Nacional de Travestis e Transexuais e é importante também lembrar que em todo movimento de luta por direitos da população LGBT, a comunidade Trans e Travesti esteve à frente.
Ela destaca que a partir dos anos de 1990 houve muitos avanços, que hoje existem leis que amparam a comunidade LGBTQIAPN+, que há representatividade na política, na mídia, na educação. “No governo federal há a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ [vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e criada para desenvolver políticas públicas de enfrentamento ao preconceito e à discriminação e promoção dos direitos das pessoas LGGBTs], mas é importante observar em que condições estes representantes se encontram ante ao preconceito e conservadorismo.”
Outro ponto que Joanna destaca e que mostra o retrocesso com relação as questões de gênero é que, embora a homossexualidade tenhas deixado de ser considerada patologia pela OMS em 1990, a transexualidade só foi retiradoa do CID em 2019.
No entanto, Joanna destaca que ameaças de morte, demissões, agressões físicas na rua, adolescentes sendo expulsos de casa, assassinatos, invisibilidade trans e travesti ainda existem. “Assim com a “cura gay”, só que hoje as igrejas neopentecostais que tentam exorcizar os demônios dos nossos corpos”, arremata Pedro. Portanto, ainda há muito a ser feito.