As indústrias da saúde, de energias renováveis e a criativa são as apostas para o desenvolvimento regional sob o olhar da agenda econômica. Esses três pontos foram defendidos pela economista Tania Bacelar, em participação na 54ª Assembleia Geral da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento (Alide), na sede do Banco do Nordeste (BNB), em Fortaleza.
Quando o assunto é desenvolvimento regional, Tania é uma das vozes mais reconhecidas por seu trabalho como ex-diretora da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), ex-secretária nacional de Políticas Regionais e sócia da Ceplan Consultoria Econômica.
Tania afirma que no debate econômico para o futuro que está assistindo, dois pontos, lhe chama muito a atenção. O primeiro é o complexo econômico da saúde.
“Ou seja, vamos reindustrializar e vamos aproveitar um potencial que o Brasil tem e que na pandemia ficou muito evidente. Terminamos importando máscara e o questionamento que fica é: será que o Brasil não tinha capacidade (de produzir)?”
A economista ainda reforça que esse é dos pontos que interessa muito ao Nordeste. “Somos um mercado enorme e não podemos perder essa chance. Tem projetos embrionários no Nordeste. Então, teria que identificar esses projetos e levar esse debate a nível nacional para que a região esteja na agenda desse movimento do complexo econômico da saúde”.
Como exemplos dessa nova indústria da saúde, ela fala da potencialidade do desenvolvimento de fármacos e cosméticos, idealizados no bioma da caatinga, assim como vem ocorrendo na Amazônia. Para isso, a criação de um Fundo Caatinga está em debate, segundo a economista.
Energias renováveis
Tania reforça que não há dúvidas de que o Nordeste é visto como a região de grande potencial, e esse debate na política industrial já está sendo feito. Porém, há outros questionamentos nesse sentido que, na sua opinião, precisam ser feitos.
“Nós vamos ser só exportadores de commodities, vamos vender vento e vender sol, somente, e vamos trazer todos os painéis solares da China, ou vamos olhar para as oportunidades que tem no Brasil de usar esse potencial que tem de fornecer energia limpa para o mundo e associar isso com a nossa política de industrialização?”, questionou ela, lembrando da importância de se colocar o Nordeste na agenda. “Por que, afinal de contas, os mapas do sol e do vento nos favorecem”.
Economia criativa
‘Correndo por fora’, como se fala em uma linguagem popular, a especialista em desenvolvimento regional aposta também na ampliação da indústria criativa como um dos pontos de crescimento da economia no Brasil, em específico no Nordeste. Neste contexto, ela cita o artesanato, a música, e dança, as produções audiovisuais, como ferramentas para desenvolver esse potencial.
“O primeiro olhar que temos que ter é que a indústria criativa é economia, nem todo mundo tem essa visão. Essa é uma atividade econômica muito importante, sobretudo porque ela gera muita oportunidade de inserção para as pessoas. Dificilmente a gente encontre uma atividade que gere tanto emprego”.
A economista ainda exemplificou a indústria cinematográfica. “Sempre gosto de dar como exemplo a filmagem de um filme. São uma centena de profissionais envolvidos, das mais diversas áreas. E o Nordeste tem um grande potencial. Já somos reconhecidos por fazermos muito bem festa, mas temos muito mais do que isso. Precisamos de uma política muito mais forte, de promover a economia da cultura é muito importante.”
Sobre uma possível descredibilidade que a cultura possa ter na economia, Tania é taxativa ao dizer que “os economistas e os órgãos de desenvolvimento ainda não tem uma leitura muito positiva de que isso é um grande potencial”.
Por isso que cada vez que eu venho em um banco de desenvolvimento eu falo disso, porque é necessária essa leitura”.
Outro problema que a economista levanta neste contexto da indústria criativa é a informalidade. “Artista pode não gostar de fazer conta, de fazer balanço e talvez isso seja cobrado demais dele. Agora, eles podem ter assessoria para fazer isso. Os artistas podem não virar empresários, mas podem ser muito bem assessorados para que essa economia aconteça”.
Como exemplo do combate a informalidade, Tania fala sobre o Crediamigo (maior programa de microcrédito do Brasil), desenvolvido pelo Banco do Nordeste. Ela comenta que também no pequeno produtor agrícola ou urbano essa característica da informalidade existe e que o banco montou uma equipe para auxiliar nesses pontos.
“E o resultado é muito positivo. O que eu digo ao banco é que se a gente fez no Crediamigo, o banco pode fazer com a economia criativa, porque as duas frentes tem pontos de conexão importantes e eu não posso vir em um evento como este, de bancos de fomento e não falar sobre isso”.