Amparada pela forte presença de viajantes internacionais no seu portfólio, mais endinheirados para gastar em diárias, a Marriott tem ampliado esforços no segmento de luxo no Brasil. Até 2022, a empresa tinha apenas um hotél na categoria por aqui, o JW Marriott no Rio de Janeiro. De lá para cá, outra unidade da bandeira foi inaugrada em São Paulo em 2022 e mais quatro projetos do segmento de luxo estão em desenvolvimento – um deles, o W SP, vai ser inaugurado até o fim do ano.
Hugo Desenzani, diretor de hotéis de Luxo para Caribe e América Latina da Marriott, contou que de todos os clientes hospedados nos hotéis daqui, apenas 30% são locais e o restante vem de clientes de fora. Na média do mercado do Brasil esse percentual está em polo oposto: 80% doméstico e 20% internacional.
“No Brasil, a maioria do mercado é doméstico e isso evita que a diária creça nacionalmente da forma que o setor gostaria em dólar. Mas no nosso segmento a maioria dos clientes é americano e gasta em dólares”, disse, em conversa com o Valor.
Já grupo mais focados em segmentos mais populares e de médio padrão, como a francesa Accor, acabam dependendo mais do turista doméstico, que é mais sensível a oscilações de moeda e deixa menos margem para reajuste de tarifa.
Segundo dados do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), a diária média da indústria em março de 2024 foi de R$ 383,07, queda de 7% na comparação com o registrado em dezembro de 2012, antes dos impactos de diversas crises econômicas. Os dados foram corrigidos pela inflação. Considerando apenas o setor upscale (que abraça o luxo)a queda é bem menor: diária média em março foi de R$ 738,97, recuo de 2% contra igual base de comparação.
Com esse perfil de cliente, a Marriott passou a olhar para o Brasil com mais atenção no segmento de luxo nos úlimos anos. A aposta mais no radar é a chegada da bandeira de luxo W no Brasil. O primeiro projeto é o W São Paulo, com 179 quartos, incluindo duas suítes WOW e uma Extreme WOW Suite (a versão da marca para a Suíte Presidencial). A previsão, segundo Desenzani, é inaugurá-lo no último trimestre deste ano.
Leia também:
Como hotéis de luxo surgiram em torres residenciais de São Paulo
Design brasileiro de móveis chega com lojas próprias a Dubai, Itália e EUA
Além do projeto em São Paulo, a empresa pretende lançar até 2027 um W em Gramado, assim como dois novos hotéis de luxo no complexo Maricá, no Rio de Janeiro, previsto para 2027 — um novo JW Marriott e um Ritz-Carlton Reserve, primeiro da marca no país.
“Especialmente no segmento de lazer, as pessoas estão valorizando mais o luxo do que antes”, disse. O perfil pós-pandemia trouxe ainda viagens mais longas até no segmento de negócios, com viajantes e levando junto membros da família. “Mercados como São Paulo, Bogotá e Panamá são majoritariamente business, mas desde a metade do ano passado a gente já vi um retorno em termos de receita contra 2019”, disse. O salto reflete uma diária mais cara, embora em número de passageiros esses mercados ainda estejam abaixo do pré-pandemia no corporativo.
A aposta no segmento de luxo abraça toda a região. Atualmente, são 61 propriedades de marcas de luxo divididas em seis marcas na região – ou seja, 10% de todo o portfólio da América Latina e Caribe. Mas o segmento de luxo tem hoje 34 propriedades no pipeline na região, o que representa 20% do total em desenvolvimento.
“Hoje vemos o quão resiliente é este mercado e mais do que a gente imaginava. A realidade é que os millennials (nascidos entre 1981 e 1996) representam 52% da hospitalidade de luxo. Então, essas pessoas já estão superando seus pais em hotéis de luxo”.
Mesmo com os projetos, o executivo disse que tem sido desafiador construir hotéis novos hoje em dia diante das taxas de juros elevadas – realidade não apenas brasileira.
“Temos muitos mercados em São Paulo que estão pouco ofertados de quartos, principalmente em luxo. O custo de inflação de construção está muito caro e a taxa de juros estão muito mais elevada. Isso com certeza deixou os desenvolvedores mais atentos”, disse.
O executivo foi questionado sobre o motivo que levou a empresa a demorar tanto para avançar em luxo no Brasil, movimento que ganhou força apenas em 2022. “Construir um hotel de luxo demanda de muitos fatores. Precisa do parceiro local certo, construção correta, marca correta. Às vezes essas condições não são tão simples quando falamos de achar construtores, achar um terreno”, disse. O prédio do JW em São Paulo, por exemplo, teria sido um achado com a saída do Four Seasons.
Neste cenário, acrescentou, as conversões que bandeira continuam peça chave para o crescimento da oferta de quartos. Outra estratégia tem sido o mix de uso das propriedades, com hotelaria e também residencial. “Isso traz um preço maior, porque eles vendem um residência de luxo conectado com o hotel que vai prover os serviços”, disse. O modelo, por sinal, é o mesmo adotado no W São Paulo.