A transformação do Haddad cordial e discreto, no Haddad debochado e irônico à la Dino, diz pouco sobre o ministro da Economia e mais sobre o ambiente que o parlamento se tornou.
Enquanto houver bolsonaristas no parlamento, não esperem embates razoáveis, técnicos ou mesmo provocações com algum limite. O bolsonarismo transformou o deboche, o desrespeito, a zombaria, os palavrões, em linguagem comum.
É o arquétipo do deputado que diz que não “estupraria” uma colega de parlamento de partido opositor porque ela “não merecia”, porque era “muito feia”.
O mesmo que faz questão de saudar um oficial torturador na ditadura militar, no parlamento, no microfone. O filho deste mesmo parlamentar disse, em 2022, ter “pena da cobra” que foi usada para torturar uma jornalista durante a ditadura.
Se este é o arquétipo – a desumanização, a ridicularização, a escolha pelas expressões mais violentas – como você imaginaria que poderia ser diferente a “linguagem corrente” do parlamento mais conservador/extremista da história?
Se já estamos familiarizados com o fato de o bolsonarismo ter empurrado o Brasil para uma crise que “também é estética”, eu diria que, tristemente, a crise é também “linguística”. O bolsonarismo introduziu e naturalizou a violência no parlamento.