Entre as razões de Santa Catarina ter uma das economias mais fortes do Brasil está o seu diversificado e competitivo setor cooperativista, que em 2023 faturou R$ 85,9 bilhões e chegou a 4,2 milhões de associados. O setor é uma potência para a economia de SC porque trabalha muito, com ética e governança, diz o novo presidente da Organização das Cooperativas de SC (Ocesc), Vanir Zanatta.
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Em entrevista exclusiva ao NSC Total para este Dia Internacional do Cooperativismo (comemorado sempre no primeiro sábado de junho), Vanir Zanatta detalha a força dos diversos ramos cooperativos que atuam o Estado. A lista inclui os setores de agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, transporte, consumo, trabalho e produção de bens e serviços.
Graças à união por meio de cooperativas, mais de 80 mil produtores rurais de SC e outros estados são exportadores de proteína animal de alto padrão para o mundo. O presidente da Ocesc destaca esse setor como propulsor do cooperativismo de crédito, que mais tem associados hoje em SC.
Um ramo relevante, mas discreto, é o de cooperativas de infraestrutura, que têm usinas hidrelétricas e fornecem energia de alta qualidade em regiões do Estado. Uma delas foi além e avançou na construção civil.
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Vanir Zanatta assumiu a presidência da Ocesc dia 30 de abril deste ano. Sob a liderança dele, estão 249 cooperativas de diversos setores, que unem produtores e consumidores em todo o estado.
Ele é um líder com cooperativismo no DNA. É filho de um dos fundadores da Cooperativa Agroindustrial Cooperja, de Jacinto Machado, organização que hoje ele preside. Graduado em contabilidade pela Univille, Vanir Zanatta fez toda a carreira no cooperativismo. Leia a entrevista a seguir:
Quais são os diferenciais que fazem do sistema cooperativista de Santa Catarina um dos melhores do Brasil?
– Acho que é a nossa gente. Nós temos um pessoal muito trabalhador, que gosta de aprender. Também tem o nosso Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) sempre capacitando nossos profissionais. É isso que faz o cooperativismo catarinense ser diferente.
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Não tem outra maneira de nós trabalharmos diante dessa agitação do mundo moderno, sem estarmos preparados. Acredito que o cooperativismo é uma grande potência da economia de Santa Catarina. Ele tem conseguido se adaptar rápido às mudanças e o Sescoop tem trabalhado muito bem, tanto na formação de dirigentes, quanto de profissionais.
As cooperativas de SC têm uma atenção especial para a gestão ética, a governança. Isso faz a diferença?
– Com certeza! No passado, tivemos muitos problemas, mas agora temos poucos. De 25 anos para cá, com a vinda do Sescoop, nossas cooperativas melhoraram muito, estão fortes, sadias, temos o crédito, temos o agro, a infraestrutura em crescimento, participando da sociedade, fazendo a diferença nas comunidades onde elas estão atuando. Temos certeza de que a ética das pessoas que trabalham nas cooperativas faz sim muita diferença.
Qual é a importância do sistema cooperativista para a economia de Santa Catarina, na sua avaliação?
– Um dos pontos é a organização da sociedade. O sistema cooperativista mostra que uma sociedade organizada, unida, tem mais força do que a sociedade que é desunida, desconectada. Acredito que o cooperativismo mostra que com a união de esforços ficamos muito mais fortes. As pessoas conseguem fazer mais e melhor unidas. É assim que o sistema também pensa, e é assim que eu acho que Santa Catarina ganha com o cooperativismo.
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Chama a atenção o fato de a maioria dos catarinenses estarem integrados em cooperativas. Quantos associados são?
-Temos cerca de 4,2 milhões de associados ligados ao sistema. E se nós colocarmos isso vezes dois, já somos mais do que a nossa população (7,6 milhões de habitantes, segundo o Censo de 2022 do IBGE). É lógico que temos associados em mais de uma cooperativa, temos aquele produtor que é associado de uma cooperativa de crédito e de uma cooperativa do agro. A esposa é associada em cooperativa de crédito e o marido, do agro. Eu mesmo tenho três sociedades cooperativistas.
Como o senhor avalia o atual momento e o futuro do cooperativismo agropecuário catarinense?
– Na época em que eu entrei na cooperativa, era só o Banco do Brasil que existia na minha cidade, em Jacinto Machado, Sul de Santa Catarina. Era muito difícil trabalhar com banco. No Besc (extinto Banco do Estado de Santa Catarina) era um pouco mais fácil, mas no Banco do Brasil o pessoal tinha quase que tirar o chapéu e o chinelo antes de entrar numa agência.
Então, o agro foi responsável pela criação, nas décadas de 1960 e 1970, das cooperativas de crédito. Isso porque era uma dificuldade conseguir recurso para custeio para a área rural. A nossa cooperativa agropecuária de Jacinto Machado foi uma das que criaram cooperativa de crédito internamente. Foi assim também nas cooperativas agropecuárias de Concórdia, de Pinhalzinho ou de Palmitos.
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A Cooperalfa, que era grande, alavancou o sistema de crédito para o agro também. Muitas cooperativas do agro se fortaleceram graças ao sistema de crédito. Se hoje temos um dos melhores cooperativismos de agronegócio do Brasil, o sistema de crédito ajudou.
Um exemplo é a Aurora Coop. É uma honra ter uma cooperativa central como a Aurora, que está faturando quase R$ 30 bilhões. Junto com ela surgiu a Fecoagro. Além disso, cooperativas do Rio Grande do Sul e do Paraná se associaram a ela e ficaram mais fortes, mais presentes nas suas comunidades.
Eu posso dizer, sim que o nosso agro cooperativo está bem, vai bem, e ajuda muito o Estado. As 49 cooperativas do setor fecharam o ano de 2023 com 83.850 cooperados, 60.827 empregos diretos e receita de R$ 54,7 bilhões, com recuo de 3% devido aos baixos preços internacionais. Mas para este ano, a projeção é de crescimento de 15% e a receita deve ficar perto de R$ 63 bilhões.
Então, tudo isso é por Santa Catarina. Como nós multiplicarmos o número de empregados por três, que é uma família, temos 180 mil pessoas que sobrevivem do agronegócio cooperativo catarinense.
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E, graças a Deus, o cooperativismo também soube preparar dirigentes e profissionais que estão cada vez mais fortes, cada vez mais buscando desenvolver o seu negócio, a região onde atuam. Isso é muito bom.
Além disso, nós temos a Brazilrice iniciando a vida. São cinco cooperativas de arroz aqui do nosso Estado que se uniram e estão trabalhando, conversando, trocando ideias, se juntando, para que nós façamos melhor juntos do que separados. Integram a Brazilrice a Cooperja, Coopersulca, Copagro, Cravil e Cooperjuriti.
Vocês estão criando a Aurora do arroz?
– Quem sabe daqui a 40 anos nós estejamos lá, mas tem que ser mais rápido. Eu não ousaria falar isso, mas a filosofia é a mesma da Aurora, com certeza.
Outro ramo forte no Estado é o cooperativismo de crédito que, como o senhor falou, começou no agro. Como vê o atual momento e o futuro desse ramo?
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– Nos últimos 10 anos, o ramo de crédito cresceu anualmente acima de dois dígitos. No ano passado (2023) não foi diferente. Nós temos em SC cinco centrais cooperativas de crédito: Sicredi, Sicoob, Cresol, Unicred e Ailos. Com esses sistemas, nos tornamos um dos Estados mais desenvolvidos no ramo de crédito do Brasil.
Elas estão crescendo em número de cooperados, têm mais de 3 milhões de associados, mais de 20 mil empregados, têm sobras interessantes. Fazem devolução das sobras anualmente. A nossa cooperativa de crédito devolve toda as sobras.
Então, o sistema de crédito vem numa fase muito boa de crescimento. Precisamos não esquecer de capacitar pessoas porque os quadros precisam ser renovados, é preciso fazer a sucessão para que o sistema possa seguir se desenvolvendo.
É um setor que tem muito caminho ainda a seguir porque, no Brasil, responde por 9% dos serviços financeiros enquanto os bancos comerciais têm 90%. É importante que o sistema de cooperativismo de crédito tenha uma participação maior, como ocorre em outros países.
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O cooperativismo de saúde também investe e cresce em SC. Como o senhor analisa esse setor?
– No caso de cooperativas de saúde, temos os belos exemplos da Unimed e Uniodonto. Estão se organizando cada vez mais. A Federação das Unimed, que tem sede em Joinville, está crescendo. Por isso estão fazendo um novo prédio.
O setor é forte no Estado. Temos 30 cooperativas de saúde com faturamento de quase R$ 6,6 bilhões, 14 mil associados (a maioria médicos) e quase 11 mil empregos diretos. É um setor que cresce e está investindo em hospitais, o que é bom para todos.
O que o senhor destaca do cooperativismo de infraestrutura?
– Nós temos 39 cooperativas de infraestrutura registradas na Ocesc e muitos associados. Fechamos o ano passado com cerca de 450 mil cooperados, associados das cooperativas de infraestrutura. Os consumidores de energia são a maioria dos associados desse ramo.
As nossas comunidades eram todas rurais, abandonadas. A Celesc, na época, não queria atender com fornecimento de luz. Todas essas cooperativas devem estar com 50 anos ou 60 anos. A nossa, em Jacinto Machado, está com cerca de 60 anos.
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Essas cooperativas foram fundadas por necessidade de ter energia boa. O nosso governador está bem preocupado com o fornecimento de energia de alta qualidade para os agricultores. Mas olha na nossa região: 90% ou mais de 80% da distribuição é de energia trifásica no campo. Isso a Celesc não tem. Então, todo esse trabalho, toda essa qualidade, as cooperativas fazem com muito mais maestria. Quem quiser investir no campo na nossa região tem energia de qualidade.
Além disso, temos no Oeste catarinense a Cooperativa Distribuidora de Energia Vale do Araçá (Ceraçá), que atende 17 municípios e, além de fornecer energia, tem fábrica de postes de concreto, produz os pavilhões que precisa e vende esses pavilhões para terceiros.
Também fornece telecomunicações, internet. No nosso décimo quinto congresso nós debatemos o porquê de as cooperativas não poderem fornecer internet para os seus associados. Eu acho que virá coisa boa por aí.
E sobre outros ramos de cooperativas, o que o senhor destaca?
– Temos, ainda, o ramo de transporte, o de trabalho, de produção e serviços de bens, e o ramo de consumo. Em SC, esse ramo de consumo é forte. O de trabalho e produção bens e serviços tem poucas cooperativas, menores, mas não menos importantes.
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O ramo de transportes está passando por uma transição, mudando para empresa, criando outro tipo de negócio. A ideia de cooperativas de transporte, no início, foi para facilitar a vida dos caminhoneiros no começo da atividade.
Agora, talvez já estejam em outro patamar, mas no início da vida profissional, em conjunto, eu acho que uma sociedade organizada em cooperativa é positiva.
Uma frase conhecida do senhor é: “Para fazer o social tem que ter o econômico sadio e robusto”. Pode explicar essa mensagem?
– É verdade! Não se pode fazer social com o dinheiro dos outros. Você tem que fazer social com o seu dinheiro, com as suas condições. Você não pode exigir que o social seja feito e ficar pedindo dinheiro a torto e a direito. Só faz o social se você tiver um financeiro forte. Eu assumo que afirmo essa frase por isso.
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Acho que isso não pertence ao cooperativismo, pertence a outras esferas. Nós fazemos o social e um social muito forte pelo sistema cooperativo de Santa Catarina. Trabalhamos com as mulheres, com os jovens. Fazemos o encontro estadual das mulheres cooperativistas. Este ano, vamos reunir mais de 1,2 mil mulheres em setembro, no Costão do Santinho, em Florianópolis.
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