A participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma audiência pública da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados na manhã desta quarta-feira (22) foi marcada por um bate-boca entre o ministro e alguns parlamentares.
Com a reunião, os parlamentares tinham o objetivo de discutir com Haddad a política econômica do país. No entanto, a discussão extrapolou a pauta da economia e envolveu questões como música, livros, cultura, vacinação, negocionismo e terraplanismo.
Taxação das importações
Taxa nas importações de até US$ 50 gera bate-boca entre Haddad e deputado
O deputado Kim Kataguiri questionou a linha do PT de aumentar a arrecadação por meio de alta de tributos, e afirmou que teria havido uma briga entre deputados do PT e o governo na última semana sobre o assunto. O parlamentar perguntou a Haddad qual a posição oficial do Ministério da Fazenda sobre a retomada da taxação federal.
Em resposta, o ministro da Fazenda afirmou que é preciso mais tempo para o governo tomar uma posição sobre a retomada do imposto federal, e afirmou que a decisão dos governadores de aumentar o ICMS estadual foi “correta”.
Ele afirmou ainda que Kim Kataguiri está tentando “ideologizar” o debate, e acrescentou que é “preciso ter coragem” para tomar decisões, mas é necessário “saber o que está acontecendo nas feiras, nas periferias”. Haddad afirmou que, desde o ano passado, todas as remessas do exterior passaram a ser registradas.
“Pega o microfone e fala mal do Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Fala! O varejo brasileiro é honrado, feito de empresário honrados, a indústria é honrada. As pessoas que mandaram esse documento para nós são honradas, merecem ser ouvidos. Feche a porta para ouvir e parar de lacrar na rede”, declarou Haddad, ministro da Fazenda.
Na réplica, Kataguiri disse não ter insinuado que a indústria brasileira não é honrada.
“Ele [Haddad] Também disse que eu não recebo representantes [do setor industrial], que eu não teria feito questionamento, que estaria lacrando. De três questionamentos que eu fiz, ele não respondeu, sobre privilégios, elite do funcionalismo público, paternalismo. E que o ministro está fugindo de responder é qual o posicionamento do Ministério da Fazenda da imposição de imposto de importação em 60% para as compras online”, disse o deputado Kim Kataguiri.
Haddad discute com deputado sobre tributação de jogos em sessão da Câmara
Ao falar sobre dos jogos online, Haddad criticou o apoio de um dos parlamentares a isenção. O ministro queria responder a uma fala do deputado Filipe Barros (PL-PR), mas acabou se confundindo na declaração, que direcionou, novamente, ao deputado Kim. Depois, Haddad se desculpou pelo erro.
“‘Bets’ que o senhor manifestou, esses jogos online…o senhor está defendendo a isenção de jogo? Quer dizer, não só o senhor está defendendo a permissão dos jogos, mas o senhor quer que seja uma atividade incentivada pela não tributação? Será que o senhor está no juízo perfeito?”, questionou Haddad.
“Tem toda uma bancada evangélica que, com legitimidade, defende que as pessoas não joguem, o deputado Kim que vai além. Ele quer incentivar o jogo pela não tributação”, completou o ministro.
Nesse momento o deputado Kim Kataguiri interrompeu a fala de Haddad: “Regimentalmente, quando alguém me imputa uma falsa opinião…eu tenho direito de me defender. Em nenhum momento, ministro, eu falei de aposta”, disse.
Em seguida, Haddad corrigiu a menção.
“Foi o deputado Filipe? Não é? Foi o deputado Filipe. Tem razão. É do seu partido, não? Não, não, não é de outro partido. De qual partido? É do PL, do PL. Me perdoa”, completou.
Ao terminar a fala, o ministro da Fazenda pediu para que a bancada evangélica prestasse atenção nos depoimentos em apoio a não tributação dos jogos online.
Haddad discute com deputado: ‘Vocês negam que a terra é redonda’
Ao analisar alguns dos indicadores econômicos do país, o deputado Abilio Brunini perguntou se o ministro era um “negacionista da economia”.
“Olhando todos esses números, olhando esses gráficos — esse aqui que achei que estava invertido, mas é assim mesmo, negativo — a minha pergunta para o senhor é: o senhor é um negacionista da economia? O senhor não acredita na economia? Na ciência da economia. O senhor não acredita nos números, é um negacionista dos números, negacionista das exatas?”
Para justificar a pergunta, Brunini mencionou problemas econômicos envolvendo o preço de produtos alimentícios como o arroz, o desemprego e greves. Em seguida, o deputado fez outro questionamento para Haddad.
“O senhor não queria estar no Ministério da Fazenda e queria estar no Ministério da Cultura tocando ‘Blackbird’? Essa é a intenção do senhor? Por que não faz o menor sentido”, seguiu Brunini.
Em resposta, Haddad disse: “O deputado Abilio me acusa de gostar de livro, filme, música. Deputado, eu gosto da cultura. Eu sei que o ‘bolsonarismo’ tem dificuldade com as artes. Vocês têm, vocês têm, vocês têm. Vocês não gostam. Mas vocês vão ter que aprender a respeitar um dos maiores patrimônios do país”, afirmou.
Em seguida, Haddad argumentou que “se não fosse o Congresso Nacional botando goela abaixo do governo duas leis de apoio à cultura, a cultura tinha morrido no Brasil durante a pandemia. Vocês quase acabaram com a cultura brasileira, que é um dos maiores patrimônios desse país.”
‘Calote’ nos precatórios
Haddad discute com deputado de oposição sobre ‘calote’ dado por governo Bolsonaro
Haddad ainda falou que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara são “negacionistas” sobre a vacina contra Covid-19 – e que também negam um calote no pagamento de precatórios durante o governo anterior.
“Eu defendi a vacina o tempo todo, a terra é redonda o tempo todo. E vocês negam que a terra é redonda, vocês negam que a vacina previne, vocês negam que deram o calote em precatório, em governador e eu que sou negacionista?”, afirmou o ministro da Fazenda.
O deputado Brunini argumentou que Haddad estava fugindo dos assuntos da pauta e desviando o foco. Em seguida, o ministro respondeu.
“Você me chamou de negacionista, eu estou lhe respondendo. O senhor que é negacionista. O senhor nega o calote?”, questionou várias vezes Haddad.
Em outro momento, o ministro disse: “Reafirmou o calote? Eu fico satisfeito que o senhor não é negacionista. Parabéns. Não seja assim, deputado, não seja assim.”