Quando o clima lá fora fica desfavorável, o mercado fica menos condescendente com o Brasil na nossa antiga mazela: a situação fiscal. E por aqui as coisas não vão bem. O arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad está desacreditado por causa da revisão da meta do ano que vem.
E uma discussão para tentar reduzir o ritmo das despesas públicas foi abortada no nascedouro. Quando a ministra do Planejamento, Simone Tebet, ousou falar em desindexação da Previdência ao salário mínimo ou em rever os pisos de saúde e educação, foi logo desautorizada.
Daí o Banco Central, que vinha colaborando com uma certa racionalidade, terminou de fazer o serviço e piorar as expectativas. Ao se dividir entre indicados de Lula e indicados de Bolsonaro no ritmo de queda de juros, passou para o mercado a sensação de politização do “próximo BC”.
A autoridade monetária tentou se corrigir ao divulgar a ata da reunião, apontando que havia apenas um discordância sobre alterar ou não o “guidance” da queda de juros, mas o estrago estava feito.
O mercado, às vezes, se engana e exagera. Ainda não há evidências concretas de que, se escolhido presidente do BC, Gabriel Gallipolo, será um novo Alexandre Tombini, banqueiro central que ficou conhecido na época do governo Dilma por dar um “cavalo de pau” nos juros e detonar a credibilidade da instituição. Só que credibilidade é algo difícil de conquistar e fácil de perder.
Só o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que parece que não viu o tamanho do problema. Preso na ideia de que “gasto é vida”, Lula disse na segunda-feira que a reconstrução do Rio Grande do Sul vai ajudar o Brasil a crescer.