A decisão do governo de abandonar a meta de superávit primário zero neste ano (excluindo o pagamento de juros) trouxe à tona a discussão sobre os malefícios que o excesso de gasto público pode causar à economia. Está clara a importância de entender os efeitos diretos que uma política fiscal expansionista pode gerar, especialmente a longo prazo.
Primeiro, é preciso considerar que o governo atua como um consumidor gigantesco na economia. Por exemplo, o pagamento dos precatórios, em março, injetou mais de R$ 90 bilhões em recursos. Da mesma forma, aumentos salariais para funcionários públicos equivalem a centenas ou milhares de empresas concedendo acréscimos aos empregados simultaneamente. Quando o governo contrata serviços, é como se milhões de pessoas fizessem o mesmo de uma só vez.
Esse aumento nas despesas governamentais provoca um deslocamento significativo na demanda, pressionando os custos das empresas. Assim, para produzir mais, esses negócios lidam com custos mais elevados nos insumos, horas extras e depreciação maior de máquinas. Isso aplica aos serviços, especialmente os intensivos em mão de obra. Vale destacar que esse processo ocorre em um cenário de pleno emprego, como é o caso do Brasil, onde a taxa de desemprego trimestral média está próxima da mínima histórica (7,8% contra 7,4%).
Dessa forma, qualquer excesso de gastos do governo aumenta a demanda, pressionando os mercados em geral (e o mercado de trabalho), o que eleva os custos das empresas e, consequentemente, os preços. Em situações de demanda insuficiente, essas despesas podem ser úteis para um estímulo econômico, de acordo com a teoria de John Maynard Keynes, economista inglês do período da Grande Depressão.
O Banco Central (Bacen) monitora de perto os serviços, em especial os intensivos em mão de obra, ao analisar o índice inflacionário para mensurar a demanda. Além disso, observa bens com menor volatilidade ligada a eventos climáticos ou expectativas (core inflation). Ao detectar um aquecimento econômico, o Bacen é obrigado a aumentar juros ou, pelo menos, desacelerar o ciclo de redução das taxas.
Esse fenômeno é conhecido como efeito crowding-out: a expansão dos custos governamentais pressiona a demanda, elevando a inflação e os juros, repelindo o investimento privado. Assim, os recursos são direcionados ao governo, em vez de serem usados de forma produtiva.
E é aqui que reside o grande perigo. Inicialmente, esses custos podem induzir um aumento de curto prazo na atividade econômica. No entanto, essa pressão reduz o potencial de crescimento a longo prazo, uma vez que os investimentos diminuem. Um governo irresponsável, que priorize os índices de popularidade em detrimento do futuro do País, pode causar danos irreparáveis, principalmente, aos mais pobres, os mais vulneráveis aos efeitos dos juros e da inflação.
Esse argumento precisa ser amplamente difundido para conscientizar a população e exigir governos mais responsáveis. A ideia não é acabar com os gastos sociais, mas adaptá-los à arrecadação. No longo prazo, os mais pobres serão os maiores beneficiados com mais empregos e renda.