No último mês vimos pelo menos 40 estudantes esperando horas na fila da PROAE com fome porque a Reitoria cortou inúmeros auxílios alimentação sem nenhum aviso ou explicação. São dezenas que não sabem como irão se alimentar no próximo período. Vimos também cortes na Residência, atacando questões vitais para nossa permanência. Os mais atingidos pelos cortes da Reitoria são es estudantes negres, mulheres e LGBTQIAP+, que desde casa precisam se enfrentar com o preconceito ou com a realidade dos baixíssimos salários do duro trabalho precário. As cotas, conquista do movimento negro e estudantil, permitem que alguns de nós furem o filtro social e racial do vestibular e entrem nas universidades. Mas a realidade é que a Reitoria só nos recebe de braços abertos se for pelas portas da terceirização.
Diante destes absurdos, fazemos um chamado a conformar uma chapa unificada dos setores independentes do governo para as eleições do DCE da UFRN, que passe por um espaço público de debate, visando um programa e ideias comuns frente à atual gestão do DCE, que seja consequente na luta pelas demandas des estudantes e trabalhadores! Uma chapa que se alie aos trabalhadores e movimentos sociais e se inspire no movimento estudantil internacional que se levanta contra o imperialismo e o genocídio na Palestina para defender a educação e o futuro da juventude.
As eleições para o DCE da UFRN irão acontecer nos dias 8 e 9 de agosto, com campanha a partir do dia 3 e inscrição de chapa nos dias 31 de julho e 1 de agosto. Um prazo minúsculoque só demonstra a intenção da gestão atual do DCE de impedir a ampla participação de chapas diversas, o que explicita o caráter burocrático das eleições que são chamadas pela gestão que é do Levante e Kizomba (PT) e UJS (PCdoB), as juventudes do governo Lula e do Arcabouço Fiscal.
Para chegar na UFRN, muites estudantes e trabalhadores passam horas a fio presos em engarrafamentos espremidos em ônibus caindo aos pedaços apesar das passagens caríssimas, responsabilidade direta de Álvaro Dias e da máfia da SETURN junto do governo Fátima com o aumento das intermunicipais . Dentro da universidade, os circulares também estão mais para lata de sardinha. No horário em que começa o expediente dos terceirizados, nem circulares há. Além disso, nosso RU custa 8 reais, um valor muito mais alto do que a maioria des estudantes tem condições de arcar. O RU das tecnológicas só abre para o almoço e deixa es estudantes esperando em filas enormes no sol. Com frequência, muitos sentam no chão para comer, pois falta espaço nas mesas. Nos pratos, ao invés de feijão, são servidas larvas de mosca. As mãos que carregam, limpam e servem nossa comida também são negras e calejadas de tanto trabalhar enquanto seus salários atrasam mensalmente.Todos esses absurdos são ataques do governo federal articulados pela reitoria que desconta todos os cortes nos setores mais precários, como bolsistas e terceirizades.
Os técnicos e professores das universidades deram um forte exemplo com a greve das federais, que parou universidades de todo o país pelo reajuste salarial e recomposição orçamentária que, na UFRN, foi acompanhada por estudantes de mais de 10 cursos e pelos bolsistas que, mais uma vez, fizeram greve trazendo à tona que o caminho para arrancar nossas demandas é a luta. A greve questionou como é possível defender a educação enquanto o orçamento público federal está voltado para financiar o agronegócio com um Plano Safra bilionário, aumentar em quase 50% o salário da polícia e encher o bolso dos banqueiros em nome da dívida pública pela via do Arcabouço Fiscal que diretamente corta das bolsas CNPq, ou seja, da permanência estudantil. Ou seja,Lula-Alckmin usa do dinheiro que deveria servir para melhorias e investimento na educação para fortalecer setores da direita e do grande capital financeiro. Por isso, para defender a educação, por transporte, moradia e RU de qualidade, com preço reduzido e gratuidade pra toda a demanda sem trabalho precário, junto aos trabalhadores e os setores oprimidos é necessária total independência do governo federal e plena confiança na aliança des estudantes com es trabalhadores para impôr nossas demandas por meio da organização e da luta.
Junto à greve das federais, os trabalhadores do INSS e trabalhadores ambientais também resgatam os métodos tradicionais de luta entrando em greve por seus direitos, também se chocando com o Arcabouço. É em todos eles que nos inspiramos para arrancar cada demanda, inclusive para nos enfrentar com a engorda de Ponta Negra proposta pelo direitoso nojento Álvaro Dias.
Ao redor do mundo, a juventude também vem dando exemplos importantes: o levante do movimento estudantil internacional contra o imperialismo e em defesa da Palestina nos inspira e abre nossos olhos para a força que temos para lutar pela educação, mas também pelo futuro da juventude e da humanidade. Não pode ser que as vidas negras, as mais atingidas pela precarização da universidade, sejam espremidas entre o trabalho precário e as balas da polícia enquanto assistimos a um genocídio na Palestina. As armas com que Israel mata lá, são as mesmas que Lula compra para assassinar nossa juventude aqui. Enquanto isso, a UFRN mantém relações com universidades israelenses e quer colocar o conhecimento que produzimos a serviço de um genocídio. Não vamos aceitar!
A proposta de Congresso des estudantes é um ponto de partida pra batalha pela revogação desse teto de gastos que é o Arcabouço Fiscal para que possamos arrancar bolsas de um salário mínimo com reajuste de acordo com a inflação para que seja possível viver a universidade, como também creches pra toda a demanda com vagas para estudantes, servidores e terceirizades. Por isso somos intransigentes na defesa de que os terceirizados sejam efetivados sem precisar passar por concurso, recebendo os mesmos direitos de um servidor federal. E defender um plano de obras na UFRN, que garanta infraestrutura e acessibilidade para os estudantes PCDs, que devem dirigir esse plano junto com os trabalhadores.
A luta unificada des estudantes e trabalhadores poderia ter ido por cada uma dessas demandas, não fosse o papel das direções dos trabalhadores e estudantes em nos dividir e conter nossa luta. O que poderia ter sido a greve das federais, se nosso DCE estivesse a serviço de nos organizar para lutar?
O DCE da UFRN é a entidade estudantil responsável por organizar o conjunto dos estudantes da universidade. Existem diferentes visões de para que serve um DCE, essas visões dependem da concepção política da gestão. Para nós, um DCE é uma ferramenta de luta, organização e representação des estudantes. Durante a greve e sempre, acreditamos que se deve confiar na força des estudantes junto aes trabalhadores convocando plenárias, reuniões e assembleias regulares onde se votem medidas concretas de luta. As juventudes que dirigem o DCE da UFRN, as mesmas que dirigem a UNE, são diretamente do PT e PCdoB, o que explica seu completo sumiço em meio à greve, não convocando nenhuma assembleia real, abandonando os estudantes e aparecendo apenas ao fim para negociar o calendário a portas fechadas com a Reitoria.
A política do DCE da UFRN e da UNE é parte do projeto de conciliação de classes do PT que vem fortalecendo a extrema direita, e que frente aos ataques à classe trabalhadora e setores oprimidos não organizam nossas forças. Os exemplos mais recentes são a aprovação do Novo Ensino Médio que coloca o neoliberalismo nas salas de aulas e quer reservar um futuro de miséria pra juventude, como também a aprovação do Marco Temporal que retrocede nas demarcações de terras indígenas, abrindo caminho pra o agronegócio, junto com a liberação da base do próprio PT na câmara pra votação do PL 1904, o PL da gravidez infantil e do estupro. A luta contra este último colocou o movimento de mulheres novamente nas ruas como não se via desde os movimentos pelo Fora Bolsonaro, o que expressa uma resposta dada à ofensiva asquerosa da extrema direita, apesar da contenção da burocracia das centrais sindicais da CUT e CTB que por tantos anos recuaram na pauta sobre legalização do aborto porque hoje são parte do projeto de país da Frente Ampla que não defende a legalização e coloca a triste realidade da morte e mutilação de tantas pessoas que gestam, onde entre cada 4 mulheres que morrem por abortos clandestinos, 3 são mulheres negras. A luta nas ruas precisa seguir para que derrubemos todos os ataques.
Essa inércia do DCE e da UNE não é uma surpresas para as juventudes do Arcabouço Fiscal, que tentam maquiá-la com festas na UFRN enquanto é o seu governo estadual de Fátima Bezerra que reprime nossos espaços de lazer como o Beco da Lama. Queremos sim festas dentro e fora da universidade, mas que sirvam como espaço também de discussão política, como foi o festival pela Palestina ocorrido na UERJ junto de mães de vítimas da violência policial.
Contudo, ao invés das juventudes ditas da oposição cumprirem um papel alternativo à direção governista do DCE, elas repetem os mesmos métodos. UJC, Correnteza-UP, e Juntos! abandonaram o comando de greve de bolsistas e tampouco atuaram em defesa da auto organização desde os Centros Acadêmicos que dirigem. Isso também é reflexo de uma adaptação política ao governo. A UJC tem cargo na UNE, mas não o utiliza para questionar a inércia da majoritária, pelo contrário, escolhe a confortável e silenciosa adaptação. A UP apoia a pré-candidatura e está no gabinete da Natália Bonavides (PT), que votou a favor do Arcabouço Fiscal e está coligada com o PRD, partido de direita que foi parte de redigir a PL da gravidez infantil. Por sua vez, a Revolução Socialista e Juntos! são juventudes do PSOL, partido já há muito integrado ao regime e ao governo.
É urgente construir uma real alternativa à atual direção do DCE, que possa organizar os estudantes pela base e fortalecer uma perspectiva verdadeiramente independente do governo Lula-Alckmin, como necessidade para se enfrentar com a extrema direita de Álvaro Dias, se aliando aos trabalhadores que lutam contra os ataques, desde os terceirizados até os técnicos administrativos. É preciso retomar o sentido histórico de luta e organização do movimento estudantil a nível internacional. Neste sentido, fazemos um chamado aos estudantes que acreditam nesta perspectiva, e também diretamente às organizações que a nível nacional se colocam neste campo da independência política e de classe, como o PSTU, para que, em que pese nossas divergências políticas e programáticas, possamos conformar um espaço público de debate programático e de ideias que tenha como objetivo conformar uma chapa unificada para as próximas eleições do DCE da UFRN para que essa entidade saia da inércia que a atual gestão mantém e possa voltar a fazer o movimento estudantil ter um papel histórico.