Pré-candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte reforçam uso das redes sociais para atrair eleitor | Foto: Fred Magno/ O TEMPO
A pouco mais de cinco meses das eleições municipais, marcadas para 6 de outubro, pré-candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte usam as redes sociais para mostrar as armas que deverão usar na campanha pelo comando da cidade.
Em vídeos feitos, a maioria pelas ruas da capital, os possíveis concorrentes ao cargo apontam problemas no trânsito e na área da saúde e buscam reforçar laços com a capital. Na vitrine, o prefeito Fuad Noman (PSD) repete a todo momento que está “prefeitando”, ação que, como ele mesmo diz, significa “construir, fazer obras, trabalhar para a população de Belo Horizonte”.
As publicações buscam evitar tratar os possíveis concorrentes como candidatos, o que poderia configurar propaganda eleitoral antecipada, ferindo a legislação. A campanha pelas eleições de outubro começa, conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 16 de agosto.
Até o momento, três pré-candidatos utilizaram um padrinho político no material de pré-campanha nas redes: o deputado federal Rogério Correia (PT), que cita o presidente Lula em vídeo, e os deputado estaduais Bruno Engler (PL), que mantém imagens de Jair Bolsonaro, e Ana Paula Siqueira (Rede), que usa fotos da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
“Hoje, sou vice-líder do governo do presidente Lula”, diz Correia, sobre o posto que ocupa na Câmara. Já Engler mantém fixados em seu Instagram um anúncio da vinda de Bolsonaro a Minas no dia 11 de maio para ato de pré-campanha e um vídeo que fala de sua trajetória. “Entrei na política por causa do Bolsonaro”, diz.
Além de mostrar o padrinho, o petista realça a capital e sua relação com a cidade. Em seguida, as críticas. “Hoje, até tem centro de saúde, mas as equipes estão sobrecarregadas, e faltam especialistas. Os ônibus são velhos, apinhados de gente, sem conforto nenhum. O povo tem que aguentar engarrafamento e ainda paga caro a passagem”, aponta em vídeo.
Na mesma linha vai o presidente da Câmara de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (MDB), que diz adorar falar da criação da capital. Nesta quarta-feira (1), ele postou vídeo falando que gosta muito de Belo Horizonte. “Mas amar um lugar não pode fazer com que a gente feche os olhos para os problemas que existem nessa localidade”, ressalta na publicação.
Um dos problemas, na avaliação do vereador, é a decisão de Fuad de construir, no bairro Castelo, na região da Pampulha, moradias populares do programa Minha Casa, Minha Vida, em parceria com o governo federal.
Moradores do bairro são contra, alegando sobrecarga, por exemplo, em linhas de ônibus, e querem criação de praças e áreas verdes. O posicionamento dos moradores foi adotado por Gabriel, que fez vídeo no Castelo há cerca de dez dias plantando árvores na área em que a prefeitura quer construir as moradias populares.
O vereador defende que prédios na área central de BH sejam reformados e usados como moradia popular. “Em vez de o prefeito insistir em construir moradias populares em áreas verdes e bairros afastados, o centro de Belo Horizonte pulsa oportunidades que não são aproveitadas”, argumenta.
A reportagem não localizou atividades de pré-campanha de João Leite (PSDB), que também deverá disputar a eleição, e tentou contato com o ex-deputado estadual, mas não tinha obtido retorno até o fechamento da edição.
Trânsito na capital ‘une’ rivais políticos em reclamações
Dois pré-candidatos utilizaram os problemas de trânsito de Belo Horizonte para movimentar suas redes sociais neste período pré-eleitoral. A deputada federal Duda Salabert (PDT) citou sucatas de carros abandonadas pelas ruas da cidade, enquanto o senador Carlos Viana (Pode) criticou a construção de uma ciclovia.
A deputada, em vídeo ao lado de uma das sucatas abandonadas, falou sobre os problemas que podem ocorrer a partir do não recolhimento de restos automotivos. “Carros abandonados potencializam a dengue”, disse a deputada, sobre a possibilidade de acúmulo de água nas sucatas e proliferação do mosquito aedes aegypti.
Já o vídeo do senador é mais enfático, pela forma que o parlamentar usou para criticar a construção de uma ciclovia na avenida Afonso Pena. Em imagens feitas ao lado do início das obras da pista, com uma marreta em mãos, ele diz: “Isso aqui, é o que espera essa ciclovia se eu for eleito prefeito”.
“Eu gosto de bicicleta, gosto de ciclovia, mas é onde as pessoas podem andar. Não é aqui, atrapalhando o trânsito”, diz Viana. A obra foi suspensa pela prefeitura em abril após ação questionando a construção da pista.
Madrinha
Por outro lado, a deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede) tem utilizado as redes sociais para se apresentar com uma “madrinha política”, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que esteve em Belo Horizonte recentemente para ato de pré-campanha da aliada.
“Minha pré-candidatura à prefeitura não é um capricho pessoal. Tem propósito. É um ato de coragem por acreditar que BH tem jeito”, diz a parlamentar em postagem.
Fuad tenta aumentar popularidade
No centro das atenções dos rivais, por ocupar o cargo e tentar a reeleição, Fuad Noman, nascido em Belo Horizonte, também tenta mostrar afinidade com a cidade. Em uma publicação afirma ser escritor, com três livros publicados, que falam da cidade e de pessoas do interior que migraram para a capital. “Agora não estou tendo muito tempo de escrever mais porque o prefeito tá prefeitando”, repete Fuad. “Prefeitar quer dizer construir, fazer obras, trabalhar para a população”, reitera.
Vídeos nas redes sociais falam também de uma das críticas de adversários, a questão dos ônibus. Um homem com microfone pergunta para as pessoas nas ruas se o transporte precisa melhorar. A pessoa responde que sim, e o homem com microfone afirma que a prefeitura concorda e, por isso, vem fiscalizando os coletivos.
Pesquisa divulgada em 9 de abril mostra o prefeito ainda com elevado nível de desconhecimento entre os moradores da cidade: 61% não conhecem Fuad. No entanto, o nível de conhecimento melhorou em relação a setembro do ano passado, quando apenas 23,2% da população sabia que Fuad é o prefeito.
Especialista não vê ilegalidade
O especialista em direito eleitoral Lucas Neves ressalta que pré-campanhas não são ilegais. Há porém limites. “Ninguém pode falar que é candidato e pedir votos”, diz Neves.
O formato atual dos anos eleitorais, conforme o especialista, surgiu em 2015, quando as campanhas tiveram tempo reduzido para 45 dias. Antes, os pedidos de voto podiam começar após a escolha dos candidatos pelos partidos, definição que ocorre entre 20 de julho e 5 de agosto neste ano.
Depois das convenções, os partidos têm até 15 de agosto para registrar os candidatos. A partir de 16 de agosto, os concorrentes já podem começar a pedir votos.
Neves atribui caráter positivo às pré-campanhas. “Elas permitem que o eleitor comece a se posicionar sobre os projetos que vão sendo apresentados pelos possíveis candidatos”, diz.
Para o TSE, a finalidade da proibição da propaganda extemporânea é evitar o desequilíbrio e a falta de isonomia nas campanhas. Portanto, perante a legislação, não é aceitável que alguns possam divulgar suas propagandas antes mesmo que outros tenham se registrado como candidatos.
Critérios
Os sete candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte que aparecem nesta reportagem tiveram pontuação superior a 2% na pesquisa DATATEMPO divulgada em 9 de abril, registrada no TRE-MG sob o número 02336/2024.
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