A maioria (61%) dos eleitores de Lula é favorável à militarização de escolas. Na cidade de São Paulo, três em cada quatro evangélicos apoiam que a escola aborde educação sexual e 77% são contrários à ideia de que pais possam dar aulas a crianças em casa, sem matriculá-las numa escola. O apoio à militarização das escolas consta da pesquisa nacional “A Cara da Democracia”, feita pelo Instituto da Democracia e divulgada há dez dias em reportagem de Bernardo Mello no GLOBO. O levantamento com evangélicos paulistanos foi realizado pelo Datafolha, e divulgado também há dez dias na “Folha de S. Paulo”, em reportagem de Anna Virgínia Balloussier.
Como em qualquer pesquisa de opinião, é preciso alguma cautela na interpretação dos resultados, especialmente quando eleitores se posicionam a partir de perguntas sobre temas que não dominam em profundidade e que podem gerar dubiedade. O apoio majoritário à militarização de escolas não necessariamente significa que esse seja o modelo preferido dos respondentes, mas não deixa de ser significativo que eleitores lulistas demonstrem mais apoio do que se esperaria. No caso do Datafolha com evangélicos, além de ser restrito à cidade de São Paulo, o que cada um entende por educação sexual pode variar significativamente. Mas, de novo, não deixa de ser surpreendente que um segmento comumente associado ao bolsonarismo e a pautas conservadoras sinalize que é necessário tratar do tema na escola, além de rejeitar o homeschooling, bandeira arduamente defendida por lideranças evangélicas bolsonaristas.
Temas relacionados à sexualidade humana já constam da Base Nacional Comum Curricular. É essencial mesmo que sejam trabalhados na escola por variados motivos. A LGBTfobia, doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce não planejada são alguns deles. Por ser um tema sensível, é ainda mais fundamental aqui o diálogo com as famílias, para que essas entendam os objetivos e as estratégias a serem adotadas em sala de aula.
No caso das escolas militares, há instituições centenárias no Brasil, e sua existência nunca foi motivo de debates eleitorais acalorados. O tema passou a ser mais polêmico a partir do momento em que grupos conservadores passaram a defender a ideia de que a expansão do modelo (com algumas adaptações) seria estratégia eficaz para resolver nossos graves problemas educacionais. Além de ser mais uma bizarra jabuticaba brasileira — nenhum país sério cogita isso como estratégia de política nacional —, vende-se para a opinião pública a falsa ideia de que bons resultados em poucas escolas com mais recursos e vieses na seleção de alunos seriam escaláveis. Sem falar na inadequação da formação para a cidadania democrática num ambiente autoritário.
Se for para selecionar pontos fora da curva, não nos faltam exemplos de escolas públicas que conseguem manter um bom clima escolar com melhoria da aprendizagem. Pesquisas de opinião pública já demonstraram também que a população é amplamente favorável à expansão de escolas em tempo integral, ao maior investimento público na educação básica, e na ampliação do ensino profissionalizante. Denunciar os riscos da expansão da militarização é importante, mas o caminho mais efetivo é oferecer alternativas na educação pública que respondam aos legítimos anseios da população, sem recorrer a soluções falsas, simplistas ou autoritárias.