Não é novidade o quanto a tecnologia vem moldando a rotina da população em diferentes esferas. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que o Brasil possui mais de dois dispositivos digitais por habitante, incluindo smartphones, tablets, computadores e notebooks, sendo 424 milhões de aparelhos em uso.
Esse cenário instiga uma ampla discussão, inclusive no âmbito educacional, a qual insere os dispositivos eletrônicos como aliados no contexto da aprendizagem quando utilizados de maneira consciente.
Os benefícios da tecnologia na educação
A pandemia acelerou, e muito, o uso dos recursos digitais nas escolas. Com a necessidade de um formato de “educação emergencial” que possibilitasse o distanciamento social, a educação teve que se reinventar e integrar mais tecnologia em seu cotidiano. A maioria das instituições de ensino, inclusive, migrou para as plataformas de aprendizado online, atendendo a necessidade de manter o distanciamento social.
Com essas mudanças, ficaram ainda mais nítidos os benefícios que os dispositivos eletrônicos podem trazer para a aprendizagem dos estudantes. Mobilidade, flexibilidade e desenvolvimento de habilidades digitais, são algumas das vantagens.
Um exemplo prático disto pode ser identificado com o uso dos celulares para desenvolver competências leitoras em crianças e adolescentes. A portabilidade e acessibilidade desses dispositivos proporcionam acesso imediato a uma diversidade de materiais de leitura e aplicativos interativos, incluindo animações e músicas para enriquecer as histórias.
Além disso, ferramentas de suporte à leitura, como dicionários integrados, facilitam a compreensão imediata de palavras desconhecidas. Também potencializam o aprendizado a personalização da experiência leitora proporcionada pelos dispositivos, possibilitando ajustar o tamanho de texto, brilho e contraste.
Os diferentes tipos de tela
Atualmente, existem diferentes tipos de dispositivos eletrônicos e cabe à escola orientar os estudantes para que eles aprendam a escolher o melhor tipo de tela, e, se necessário, a instituição e a família podem ajudar indicando o formato mais adequado. Essa seleção deve levar em consideração, o tipo de atividade proposta, a faixa etária do estudante, bem como os recursos disponíveis. Tópicos como mobilidade, ergonomia, usabilidade, conexão e possibilidades de interação também impactam na hora de decidir a melhor tela a utilizar.
O celular, por exemplo, pode ser muito útil em casos de produções midiáticas, uma vez que integra câmera fotográfica, filmadora, gravador de áudio e editor de imagem. Pode ser utilizado, ainda, para pesquisas breves, experiências imersivas, como realidade aumentada, gestão do tempo e organização das tarefas. Em casos de produção escrita ou pesquisas, no entanto, a tela e o teclado do celular tornam a experiência menos confortável.
Desafios eminentes
Apesar dos diversos benefícios, o uso exacerbado da tecnologia pode corroborar para problemas de saúde associados, como prejuízos ao sono, além de desafios que incluem distrações, redução da concentração e o debate quanto à segurança online dos jovens.
Outro tópico sensível está relacionado à dificuldade de os adolescentes ficarem longe das telas. Para eles, existe uma linha tênue entre “identidade real” e “identidade digital” e a convergência entre esses mundos exige cada vez mais que pais e educadores trabalhem juntos para orientá-los sobre como navegar de forma saudável e produtiva no ambiente digital.
Nesse sentido, é preciso haver envolvimento ativo dos pais, abrindo espaço para um diálogo constante e estabelecendo, se necessário, um monitoramento e controle parental, a fim de fomentar a educação digital e o uso de internet segura. Além disso, é importante ensinar os jovens a gerenciar seu uso de tecnologia e reconhecer impactos negativos potenciais, maximizando os benefícios dos celulares na educação e minimizando riscos de uso excessivo ou inadequado.
Estabelecer uma rotina é a chave para um uso consciente
Independente do uso da tecnologia digital, estabelecer uma rotina de estudo não é uma tarefa fácil para os estudantes. Nesse sentido, é crucial que as famílias estabeleçam horários específicos para o estudo e, que ao usar a tecnologia, ajudem a selecionar aplicativos que potencializem o aprendizado.
É crucial, ainda, ensinar sobre o equilíbrio entre o tempo on-line e off-line, apoiando o estudante no desenvolvimento de habilidades críticas para discernir conteúdos e interações virtuais, a fim de fortalecer a formação de uma identidade equilibrada e consciente.
Por fim, a forma mais eficiente de se utilizar o celular é com orientação, educação para o uso e combinados claros. É muito importante estabelecer espaços de segurança, negociar regras e garantir momentos de desconexão. Convidar os filhos para o diálogo, oferecendo a possibilidade de decidirem juntos as responsabilidades, pode ser efetivo no processo.
Além disso, recomenda-se sempre incluir um período de “detox digital” antes de dormir. Isso envolve desligar todos os dispositivos pelo menos uma hora antes de ir para a cama. Este tempo, inclusive, pode ser usado para fortalecer as relações familiares com atividades como leitura e conversas que proporcionem um ambiente mais calmo e propício ao descanso noturno.
Desta forma, implementando essas medidas e mantendo um diálogo aberto sobre os desafios e benefícios do mundo digital, os pais podem ajudar seus filhos a desenvolverem um relacionamento saudável e produtivo com a tecnologia, na mesma medida que a escola fomenta o debate consciente sobre o uso dos dispositivos eletrônicos na educação.
Savina Allodi é Coordenadora Pedagógica do 6º ao 8º ano do Ensino Fundamental da unidade de São Paulo da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.