No último verão, mais de 370 mil pessoas passaram pelo município de Não-Me-Toque, no Alto Jacuí, e movimentaram quase R$ 8 bilhões em negócios durante a Expodireto. A 190 quilômetros dali, em Campo Novo, na região Celeiro, foram outros R$ 374 milhões movimentados na ExpoAgro.
Números recordes que, conforme os organizadores de duas das principais feiras agropecuárias do Estado, dificilmente se repetirão no início de 2025, mas os eventos são encarados como fundamentais para atrair ao Norte do Rio Grande do Sul os olhares e investimentos imprescindíveis na retomada da economia gaúcha meses após o maior desastre natural da história, com as cheias de maio.
“É nas dificuldades que precisamos criar as oportunidades. E neste momento, ainda um pouco atordoados com todos os danos sofridos pela economia gaúcha com as cheias de maio, todos estamos pensando em alternativas para alavancar o Rio Grande do Sul como um todo, novamente. A feira terá uma função ainda maior em apontar os rumos para o setor“, diz o presidente da cooperativa Cotrijal, Nei Manica, que organiza a Expodireto.
Na região, os danos com as inundações não foram tão intensos. Entre os municípios em estado de calamidade, por exemplo, somente dois, no Norte, e um, no Alto da Serra do Botucaraí, foram listados.
Nas lavouras entre o Alto Jacuí, onde fica a sede da cooperativa, explica Manica, os danos ficaram por conta do acúmulo de água no solo, que atingiu parcialmente o final da safra de soja e deve repercutir na produtividade. “O excesso de chuvas deixou consequências no solo e na armazenagem em todas as regiões, que ainda vão repercutir nas próximas culturas e vão exigir muito investimento em melhorias”, comenta o dirigente.
Os desafios lançados pelos eventos climáticos extremos, cada vez mais potentes como indicam os prognósticos, desde estiagens prolongadas até enxurradas de proporções catastróficas, não dizem respeito só a quem produz no campo, mas a toda a economia das regiões Norte, Alto Jacuí, Missões, Noroeste Colonial, Fronteira Noroeste, Celeiro, Médio Alto Uruguai, Rio da Várzea, Nordeste, Produção e Alto da Serra do Botucaraí.
Não é exagero dizer que o agro – direta ou indiretamente – mobiliza a região. Assim como no Rio Grande do Sul, o agro é decisivo para a alta ou o desaquecimento da economia. A safra cheia impulsiona os diversos setores. Por isso, não depender do clima para atingir bons resultados é decisivo. E a irrigação emerge como um movimento importante, já implementado pela Cotripal, outra cooperativa importante da região.
Pela pujança do agro e por sua economia diversificada, que já vinha em franco crescimento, e agora não foi tão atingida diretamente pelas cheias, a parte Norte do Estado pode ser o motor para reativar a economia. É uma região decisiva para a retomada econômica do Rio Grande do Sul.
Entre os cinco recortes do Mapa Econômico do RS, este é o que mais apresenta crescimento nos últimos anos. Entre 2020 e 2021, o PIB somado dos municípios teve crescimento de 34,25%, bem acima dos 23,42% de todo o Rio Grande do Sul. E já soma 21% da economia gaúcha, conforme os dados do PIB municipal de 2021, o levantamento mais recente.
O ano de 2021 foi considerado de supersafra da soja e, consequentemente, de maior distribuição e interiorização da riqueza no Estado. Como consequência, o eixo Norte do Rio Grande do Sul consolidou-se como a segunda principal região econômica gaúcha. Depois de 2021, no entanto, a produção enfrentou dois anos de secas intensas, cortadas por pelo menos duas cheias em 2023, e, em 2024, quando as condições climáticas se mostraram favoráveis a outra safra de excelentes resultados, aconteceram as enxurradas de maio. Fenômenos que tendem a se repetir, como apontam especialistas, cada vez com maior intensidade.
“Agora, o momento é de entendermos que cenário futuro está se apresentando para o nosso setor e, consequentemente, para toda a produção econômica do Rio Grande do Sul. A feira será uma oportunidade para reaquecer os negócios, mas principalmente para troca de conhecimentos e debates, especialmente sobre sustentabilidade, o que tem sido desenvolvido no campo e o que ainda precisaremos fazer para nos adaptarmos às mudanças climáticas. Já estamos trabalhando em uma programação que discuta a eficiência do agro neste cenário”, explica o presidente da Cotricampo, Gélson Bride, que organiza a ExpoAgro.