Exposio o ponto de partida de outras atividades que sero anunciadas em breve (foto: Divulgao ) |
A efervescência cultural que marca a história do Recife é tema da exposição que dá a largada para um projeto maior de resgate de um dos mais importantes momentos da cidade. Há seis décadas, o Golpe Militar encerrou o Movimento de Cultura Popular (MCP), essencial para o acesso do povo a ações de educação e acessibilidade e que tinha imenso apoio da comunidade intelectual, dos professores, artistas, estudantes e membros da sociedade civil. Agora, neste ano simbólico de 60 anos do início do regime ditatorial, chega a Mostra Mutirão, promovida pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) por meio da Unidade de Artes Visuais, de sua Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), e aberta ao público a partir de hoje na Galeria Vicente do Rego Monteiro, de terças a domingos, das 13 às 17 horas, no campus Ulysses Pernambucano da instituição, no Derby.
Com um acervo reunido através de várias colaborações de colecionadores, públicas e privadas, a exposição relembra quando, durante a década de 1960, várias pessoas se uniram no Recife para combater um dos maiores males do período: o analfabetismo que afetava grande parte da população infantil e adulta da cidade, o que limitava as prospecções da população mais jovem, mantendo os mais velhos presos a empregos mal remunerados e, pela lei da época, ainda impedidos de votar nas eleições, ampliando e reproduzindo a desigualdade social. A trajetória e trabalhos dessas pessoas são recuperados através de mais de 200 itens, incluindo fotografias, folders, cartazes, documentos, objetos pessoais, jornais, livros e obras de artistas que de alguma maneira se associaram ao Movimento de Cultura Popular, como Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Guita Charifker, Maria Carmen e Wilton de Souza.
O MCP atuava nos subúrbios e se estendeu para muito além do programa de formação – e destaca-se que Paulo Freire desenvolveu seu revolucionário método de alfabetização de adultos baseando-se no material didático próprio do movimento. Foram feitas também ações de treinamento para artistas e artesãos, formação de grupo experimental de teatro, que traziam questões novas ao universo da encenação, construção de praças, centros culturais, semanas estudantis e seminários e congressos dedicados a esses temas.
Com a curadoria de Moacir dos Anjos, coordenador geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), a Mutirão visa refazer os passos dessa história e torná-la familiar para novas gerações, sendo o ponto de partida para um projeto que vai envolver ainda exibições, debates e outros eventos planejados para o local durante os meses em que a exposição estiver disponível.
Ao Viver, o curador explicou as origens da mostra e destacou a importância da preservação do legado desse período de ebulição artística que deixou marcas em cada canto do Recife. “A Mutirão começou mesmo com o programa de pesquisas Política da Arte, da qual eu era coordenador.
Numa dessas pesquisas, chamada ‘Educação pela pedra’, me aproximei ainda mais da relação entre arte e educação, e foi quando me deparei com toda a história do Movimento de Cultura Popular e, então, comecei a buscar por esse acervo, fotografias e memórias que resgatassem esse momento tão importante e que muita gente hoje não conhece. Muitos dos movimentos que vieram depois tem muito do MCP. Achei interessante trazer nessa exposição uma atualização, inclusive, dos desejos e das ideias que são hoje ainda incrivelmente relevantes para nossa cidade. Nosso objetivo é tornar vivo esse legado, que fez tanto pela educação como por vários campos da arte”, ressaltou Moacir.