“Olê olê olê olê, sangue, sangue!”. A tarde de ontem em Edson Passos foi o pontapé inicial de uma caminhada que carrega muitas expectativas em um heptacampeão carioca, escondido na segunda divisão há quase uma década. O grito que veio das arquibancadas do Giulite Coutinho, que teve os 1.800 ingressos à disposição vendidos, foram além da estreia do America na Série A2. O presidente Romário anunciou a volta aos gramados no mês passado e, mesmo que tenha ficado no banco na vitória por 2 a 0 sobre o Petrópolis, causou alvoroço na Baixada.
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O clima nas ruas e no ambiente renovado do estádio já simbolizavam uma nova fase. Não se sabe se e quando o lendário atacante, aos 58 anos, realmente irá a campo. Porém, sua simples presença atraiu força para a marca do clube, e o fez ser cercado por dezenas de jornalistas na coletiva à beira do gramado:
— Fico muito feliz e até emocionado em poder proporcionar isso para o torcedor do America. É um torcedor sofrido. Bons tempos virão.
Romário assistiu de camarote ao gol de Digão que abriu o placar no primeiro tempo, ao chute cruzado de André que fechou o marcador na segunda etapa, e até à entrada do filho, Romarinho. Esta foi a última substituição feita pelo treinador Marcus Alexandre na partida. Ali, sabia-se que o ídolo seria apenas o mestre de cerimônias na festiva tarde em Edson Passos.
Não faltaram, porém, momentos nos quais a torcida se agitou ao vê-lo levantando para reclamar sobre lances da partida. Ao fim, os três pontos vieram. No próximo domingo, o America visita a Cabofriense. A próxima partida em casa será no dia 2 de junho, domingo, contra o Artsul. Será ali a estreia do Baixinho? Não sabe. Mas uma coisa ele garante:
— O mais importante é que desta vez não mandarei o treinador embora — brincou.
Atraídos pelo ídolo, mas fiéis ao America
O estádio estava cheio, não apenas por ser o começo de uma nova tentativa de retorno à elite do Cariocão, muito por toda a expectativa que Romário atrai. Mas a fidelidade do torcedor foi um dos pontos altos da tarde. A maior parte de quem se deslocou até Edson Passos foi de autênticos americanos, que acompanham o clube há tantos anos, ou mesmo que estão sendo apresentados.
— Muito animado pela formação que o time trouxe. Contratou muita gente. E por ele (Romário) também, né? Se não fosse por ele, isso aqui não estaria assim — brincou o aposentado Carlos Rabelo, que levou o neto Miguel, de 7 anos.
O garoto, que não chegou perto de ver o Baixinho em atividade, segurava uma bandeira do America enquanto o avô dizia acreditar em dias melhores, de volta ao topo do futebol brasileiro:
— Chega de sofrer!
Esta era a mesma crença do trio Gilberto, Edson e Paulo César. O primeiro, morador local, e os amigos, de Realengo e São João de Meriti, disseram confiar no crescimento do clube, mas deixar de lado a tradicional “corneta” de torcedor.
— Time tem que jogar bola. Por nome só, não adianta. Tem que ter resultado — disse Edson.
Uma casa renovada para estreia
O anúncio do retorno de Romário ao futebol foi suficiente para alavancar a marca do America, atraindo novo patrocinador máster e vários parceiros que entraram para ajudar no processo. Quem chegou ao Giulite Coutinho ontem, viu um estádio de cara renovada, com arquibancadas limpas e apresentando uma pintura fresca, graças ao acordo firmado com uma empresa de tintas.
Esta decorou o estádio ao longo de 16 dias, com dizeres como “America unido vencerás”, trecho do hino do clube, e “Campeão dos campeões”. Letreiros novos também estavam nas fachadas interna e externa.
A estreia na Série A2 com um público maior do que nos últimos anos também ajudou comerciantes, que negociavam churrasquinho e camisas do lado de fora.
— As vendas estão bombando. A torcida está chegando junto, e esperamos vender tudo — apostava o ambulante Antônio.