Aliados do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dizem não ver sentido numa eventual migração de partido antes das eleições municipais. Eles atribuem a recente declaração do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sobre o assunto a uma “estratégia política”.
Valdemar disse neste domingo ao jornal “Estado de S. Paulo” que Tarcísio lhe comunicou sua decisão de deixar o Republicanos e se filiar ao PL, partido de Jair Bolsonaro, até julho.
Três secretários próximos ao governador, consultados sob reserva, negam movimentações recentes nesse sentido. Para um deles, Valdemar está “aproveitando para fortalecer o PL nas coligações das cidades”. Em sua opinião, o cacique quer tornar o PL mais atrativo enquanto negocia alianças com outros partidos, que veriam na filiação do governador uma demonstração de força do PL.
Outro membro do primeiro escalão do governo paulista diz não ver motivos para Tarcísio deixar o Republicanos agora, uma vez que isso criaria turbulências “desnecessárias” ao longo do processo eleitoral. Uma movimentação dessa dimensão poderia atrapalhar negociações e o arco de alianças do principal aliado de Tarcísio no pleito, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB).
Um deputado federal aliado diz não acreditar que Tarcísio evitaria uma movimentação partidária tão cedo para não atrapalhar a privatização da companhia estatal de água e saneamento, a Sabesp. Trata-se de um dos principais projetos do governador, que tem feito uma gestão pró-mercado.
Presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira negou que tenha sido procurado por Tarcísio para falar do assunto.
— Não falei com Valdemar, não falei com Tarcísio, não falei com ninguém. Tudo o que sei foi lendo na imprensa — afirma.
Dirigentes republicanos se mostraram irritados com Valdemar e Bolsonaro pela insistência no assunto, e reforçam a avaliação dos secretários estaduais de que se trata de um movimento “em interesse próprio”.
Os rumores sobre uma possível saída de Tarcísio correm há meses. Em março, durante uma manifestação que reuniu quase 200 mil pessoas Avenida Paulista, Bolsonaro chegou a ser aconselhado pelos correligionários a declarar publicamente o desembarque de Tarcísio em seu partido. Mas ele não quis mudar o foco do ato, que tinha o objetivo de defendê-lo.
O assédio do PL, somado à relação fria de Tarcísio com o Republicanos, deixa dirigentes crentes de que ele poderá deixar o partido, mas não num futuro próximo. À CNN, neste domingo, o governador comentou o assunto:
— Não teremos esse movimento no momento — disse, ao ser questionado sobre uma data para a transferência.
Membros da cúpula republicana costumam citar uma série de episódios para mostrar como Bolsonaro tem minado a confiança de partidos que poderiam estar com ele.
Em agosto do ano passado, Eduardo Bolsonaro afirmou que o Republicanos é um “partido de esquerda”. O ex-presidente também teria vetado alianças do PL com candidatos do PSD, principal força no governo Tarcísio, nas eleições, e trabalhado contra a candidatura de Marcos Pereira para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.
Não passou despercebido no Republicanos o vídeo publicado em março pelo deputado Antônio Carlos Rodrigues, homem de confiança de Valdemar, dando as “boas-vindas” de Tarcísio ao PL. Apesar disso, nada aconteceu, o que endossa a percepção de que o cacique esteja tirando proveito da repercussão.
Embora tenha feito parte da coalizão que tentou reeleger Bolsonaro na Presidência da República em 2022, o Republicanos tem desconfiança crescente com o comportamento do ex-presidente. Isso, segundo dirigentes, pode atrapalhar os planos futuros do bolsonarismo para construir uma via para 2026.