O entorno do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), ainda se divide sobre quem o candidato à reeleição vai escolher para o posto de vice da chapa, mas há um consenso: o processo decisório de agora é um dos mais difíceis que ele teve na carreira. Na prática, Paes coloca na balança se o apreço único que nutre por Pedro Paulo (PSD) — amigo, aliado de décadas e considerado o mais preparado para encabeçar a linha sucessória — é suficiente para compensar os desgastes políticos intrínsecos à indicação.
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Entre os vários momentos agudos de uma trajetória pública que começou há mais de três décadas, nenhum envolveu escolha de vice. Nas três vitórias municipais que conseguiu, Paes nunca precisou pensar no companheiro de chapa como alguém que, ao contrário de agora, será seu eventual sucessor no comando da prefeitura. O cenário atual se dá por causa da chance de largar o eventual novo mandato no meio para concorrer ao governo do estado em 2026.
Paes vinha dizendo que só anunciaria o vice no dia 5 de agosto, data final das convenções partidárias. Há, contudo, quem acredite que a decisão será antecipada para os próximos dias. O prefeito tem demonstrado estar imerso na escolha. Ansioso, conversou com aliados de diferentes partidos ao longo da semana, mas todos eles avaliam que a decisão é extremamente pessoal, difícil de ser prevista.
As leituras divergem. Existem os que veem Pedro Paulo fortalecido depois da estratégia de testar por conta própria, antes dos opositores, a repercussão da história do vídeo íntimo gravado por uma mulher que conheceu na campanha de Paes em 2020. Mas também não são poucos os que acharam o movimento equivocado e desgastante. Para esses, nomear Pedro Paulo levaria à campanha preocupações que hoje não se avizinham, dada a vantagem que o prefeito registra nas pesquisas. Em suma, daria margem para os opositores explorarem temas sem relação direta com a cidade.
Ninguém que conversa com Paes discorda de que a escolha pelo maior aliado dele na política seria a mais razoável num cenário ideal — e hipotético — em que cálculos sobre eventuais prejuízos eleitorais não fossem levados em conta. Pedro Paulo é tido como o maior conhecedor do funcionamento da máquina pública e dos números da cidade depois do próprio prefeito.
A insistência no nome dele, no entanto, já causou a Paes um trauma em 2016. Mesmo com a revelação do processo de violência doméstica contra a ex-mulher — arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) —, Pedro Paulo seguiu como o candidato à sucessão de Paes.
Opção na mesa
A persistência, bancada pelo prefeito apesar do conselho de vários aliados da época, mostrou-se politicamente equivocada: o então representante do PMDB ficou em terceiro lugar e não foi ao segundo turno, disputado entre Marcelo Crivella (Republicanos), que seria eleito, e Marcelo Freixo (então no PSOL, hoje no PT).
Pedro Paulo sempre apareceu como o favorito para o cargo este ano, mas Paes passou a ventilar alternativas dentro do próprio PSD nos últimos meses. A principal delas — e a única considerada possível hoje — é o deputado estadual Eduardo Cavaliere, ex-secretário de Casa Civil e de Meio Ambiente.
Nas últimas semanas, o político de 29 anos que ganhou rapidamente a confiança de Paes começou a ser cotado como o favorito para o posto. As bolsas de apostas da política carioca, contudo, ficaram de novo divididas, com alguns voltando a vaticinar uma indicação de Pedro Paulo.
Decisões delicadas de Paes nos últimos anos:
- Pedro Paulo: De novo nos holofotes, o deputado teve o nome bancado por Paes na eleição para prefeito de oito anos atrás. Vidraça por causa do episódio com a ex-mulher, ele acabou de fora do segundo turno, apesar do apoio da máquina da prefeitura.
- Pazes com Lula: A relação entre Paes e Lula nem sempre foi boa. O prefeito chamou o presidente de “chefe da quadrilha” quando era deputado pelo PSDB. Ao decidir se aproximar de Lula, pediu desculpas e entregou carta à então primeira-dama, Marisa Letícia.
- Volta à política: Sobrevivente da Lava-Jato enquanto os outros caciques do MDB do Rio ruíram, Paes estava na iniciativa privada em 2018. Mesmo com conjuntura desfavorável, decidiu voltar à política e disputar o estado. Perdeu para o azarão Witzel.