Argentinos estão comendo menos carne
A crise econômica está fazendo os argentinos abrirem mão de um de seus símbolos nacionais: o churrasco. O consumo de carne bovina por habitante caiu 18,5% no país em um ano, atingindo o menor nível em 30 anos.
O dado se reflete no açougue vazio. “Estamos vendendo muito pouco”, comenta Alberto, no balcão de um estabelecimento.
Ao ser perguntado pela reportagem da TV Globo, ele explica que foram seis vendas no dia. “Muito pouco em comparação com antes”, quando eram entre 20 e 30 por dia.
O açougueiro conta que não tem como explicar para os clientes que é obrigado a subir os preços. Ele ressalta que o quilo do rosbife custa 8,3 mil pesos, enquanto um empregado ganha entre 200 mil e 230 mil. Por isso, não consegue pagar.
Esse cenário seria ruim em qualquer lugar. Mas, para um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, soa pior.
A pecuária na Argentina remete à chegada dos espanhóis. E a exportação da carne explica, em parte, o período de maior crescimento do país, na virada do século XX.
Foi por motivos econômicos, então, que a Argentina ficou conhecida pelo churrasco — um dos melhores do mundo, segundo chefes internacionais. Agora, imaginar que a classe média do país não pode pagar pela carne é mais um triste retrato da crise econômica que atinge a Argentina.
Enquanto isso, o roteiro de turistas tem cheiro de carne na grelha. Alexander, por exemplo, mora em Viena e foi à Argentina só para provar a iguaria. Ele diz que, na Europa, os cortes argentinos têm boa reputação.
Nesse sentido, o premiado chef no mercado de San Telmo, em Buenos Aires, não reclama. “Graças a Deus, vamos muito bem”, diz Rodrigo Moreira.
O cozinheiro explica que, em termos de preços internacionais, a carne do país é muito econômica. Por outro lado, para os argentinos, está mais caro comprar.
O diretor do Departamento de Economia da Universidade Católica da Argentina, Ignacio Warnes, explica que é um contexto em que o consumo no país sofre como consequência de uma série de problemas econômicos.
Um deles é a inflação, que afeta o país há vários anos. Warnes lembra que, em dezembro do ano passado, o índice superou os 25% ao mês — níveis muito altos e que estão baixando lentamente.
A alta de preços no país desacelerou nos últimos três meses. Em março, foi de 11% — ainda assim, a taxa é de 287,9% no acumulado de um ano.
“Um dos fatores que faz a gente voltar realmente é a carne. Comemos uma carne hoje que ele cortou com uma colher”, diz a brasileira Tatiana Botelho.
“Paga-se um pouco mais caro do que antigamente, mas a gente consegue. Infelizmente, eles estão passando por essa dificuldade”, complementa o companheiro de Tatiana, Fagner Muzimoto.