O governo de São Paulo anunciou em abril que a Inteligência Artificial vai ajudar no aprimoramento do material didático digital. Como a tecnologia pode ser útil?
No ano passado, a gente disponibilizou o Redação Paulista, uma plataforma digital que usa Inteligência Artificial corrigindo a gramática quando o aluno escreve errado, mas não como o Word, em que você clica e a forma correta vem. O aluno tem que arrumar sozinho. Depois, a Inteligência Artificial faz comentários sobre a redação analisando quatro aspectos, como se o aluno está se mantendo ao tema. Isso ajuda o professor a fazer uma correção mais assertiva. Ele lê, concorda ou discorda, e pode mudar o que quiser para dar o feedback ao aluno. Temos mais planos como a personalização da lição de casa.
Há angústias éticas com relação a esse uso da IA?
Não tenho nenhum dilema e nenhuma angústia. Acredito muito que a tecnologia potencializa o nosso professor. Claro que a passagem do conteúdo é primordialmente humana, essa não dá para ser por Inteligência Artificial, além da parte emocional, de motivação e carinho.
O senhor criou um sistema de bônus que paga até o 14º salário. Apoia a meritocracia ou leva em conta críticas como a do filósofo e professor de Harvard, Michael Sandel, que já chamou o conceito de falácia?
Acredito na meritocracia quando ela é positiva e muito bem colocada. E a gente teve esse cuidado com o bônus que a gente lançou esse ano, que é muito inovador. Ele leva em consideração o desempenho individual de cada professor e o contexto de cada turma. Alunos mais vulneráveis têm metas mais fáceis de alcançar. A meritocracia não pode ser usada para punição. Quando a gente usa para algo adicional, aí para mim faz sentido.
A esquerda costuma te criticar dizendo que o senhor tem uma visão ‘mercadológica’ da educação. Isso te incomoda?
Sou um gestor com uma visão detalhista buscando resultados na aprendizagem.
O senhor é de de direita?
Esse rótulo faz mal para educação. O que importa é se o aluno está aprendendo a ler, se ele está aprendendo matemática.
Mas quando o governo propõe a criação de escolas cívico-militares não está acenando ao bolsonarismo?
Não é uma agenda política. A gente prevê um número pequeno de escolas, entre 50 a 100, apenas onde a comunidade escolar quer a transformação em cívico-militar. Isso será feito através de uma votação entre pais, alunos e professores. Em locais com possibilidade de brigas ou uso de drogas, o ambiente escolar vai envolver mais disciplina.
Na semana passada, foram divulgadas duas aulas produzidas pela secretaria que tinham conteúdo do MBL e do Brasil Paralelo como material pedagógico. O que aconteceu?
Foi um erro. Nós temos um time com cerca de 200 pessoas que produziu mais de 10 mil aulas em um ano e meio. Alguém pegou uma referência não se sabe exatamente porquê.
Alguns lugares, como a cidade do Rio, estão proibindo o celular na escola. O que o senhor acha dessa medida?
O Rio fez um caminho na direção certa. Quanto menor a idade da criança, mais importante é você controlar o uso do celular. Mas a gente tem muitos alunos de ensino médio, então é mais desafiador.
O senhor decidiu liberar a entrada de um profissional contratado pelos pais de crianças com autismo em sala de aula, o que foi muito criticado. Por que tomou essa decisão?
A rede tem cerca de 10 mil profissionais já nas escolas dedicados aos alunos com deficiência. Imagina que eu tenho um profissional e dois alunos com deficiência. Se eu permito o profissional que um pai decidiu pagar, libera o outro profissional para se dedicar exclusivamente ao outro aluno. Se o pai quer e pode, por que impedir?
O senhor defende alguma mudança na proposta do Novo Ensino Médio que foi aprovada na Câmara?
Não, sou a favor dessa proposta, ficou boa.
O que deve ser feito com o Enem no Novo Ensino Médio?
O MEC deveria juntar o Enem com o Saeb. O aluno tem que fazer uma prova num dia, alguns dias depois outra, que medem coisas muito semelhantes. É a melhor mudança que poderia ter.
Qual a nota o senhor daria para Camilo Santana como Ministro da Educação?
Uma nota é muito polêmico. Mas eu acredito que ele está preocupado com educação, que tem um time muito técnico e muito bom e políticas importantes e assertivas. O Pé-de-Meia é uma boa iniciativa.
De Abraham Weintraub a Fernando Haddad passando por Paulo Renato a Mendonça Filho, qual foi o melhor ministro da educação que o país já teve?
(Risos) Essa eu não gostaria de responder.