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Discutir a questão do capacitismo e refletir uma teoria pedagógica para pessoas com deficiência. Esta é a proposta do livro Educação das Pessoas com Deficiência na Perspectiva Crítica, lançado pelo professor do Departamento de Educação, Política e Sociedade da Ufes, Douglas Ferrari.
Nesse trabalho, são compartilhadas as inquietações do autor, que é pessoa com deficiência, na busca por uma educação emancipatória e anticapacitista, voltada para os direitos humanos e fundamentada em saberes críticos: “discutimos a questão do capacitismo com as bases teóricas, a partir de uma perspectiva crítica, apresentando os fundamentos da educação e os fundamentos das deficiências. Trazemos também críticas às práticas pedagógicas hegemônicas, assim como às políticas públicas desenvolvidas, ao currículo e à formação de professores, buscando pensar em uma teoria pedagógica para pessoas do público-alvo da educação especial”, explica Ferrari.
Segundo ele, o fio condutor do livro é a inserção do aluno com deficiência na sala de aula comum, considerada como local privilegiado da educação especial, de forma que todos possam ter acesso ao conhecimento para uma formação humana: “uma educação anticapacitista é, em primeiro lugar, uma educação que forneça a todos o acesso ao conhecimento historicamente produzido pela humanidade, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, dando condições a cada pessoa de ingressar na universidade.
A partir dessa formação, é que vamos pensar em uma educação emancipatória, porque o objetivo é emancipar todas as pessoas, inclusive as pessoas com deficiência”.
Discriminação
Ferrari explica ainda que o capacitismo é um problema antigo, apresentando-se como uma discriminação em função da deficiência: “seria o equivalente ao racismo, para a pessoa negra, e à homofobia, para a pessoa LGBTQIA+, os quais surgem em uma sociedade capitalista e opressora. Para as pessoas com deficiência, essa discriminação aparece como uma visão geral de incapacidade, na forma de superproteção, de caridade, de assistencialismo, ou mesmo com a supervalorização das pessoas com deficiência que chegam a determinado nível. Existe também, por outro lado, um capacitismo do Estado, que não fornece a essas pessoas condições dignas de trabalho, de acessibilidade plena e de uma educação que permita o acesso ao conhecimento humano”.
Para o professor, essa forma de discriminação está presente tanto em expressões usadas no cotidiano (como “joão sem braço” ou “cego em tiroteiro”), quanto nas práticas de estruturas institucionais, incluindo as voltadas para a educação: “o livro propõe, então, um processo dialógico, em que o pensamento de Gramsci, Vygotsky e Saviani serve de alicerce para a construção de novas teorias protagonizadas por pesquisadores e intelectuais com deficiência que lutam para libertar a escola e a universidade do capacitismo estrutural.
Já a parte da educação anticapacitista é abordada nas discussões sobre formação, conhecimento e acessibilidade, com propostas de novas atitudes que tragam letramento anticapacitista”.
Ferrari destaca ainda a importância deste tema ser tratado com o olhar de uma pessoa com deficiência que, além da formação como professor e pesquisador, tem a vivência do assunto, conhecendo os desafios enfrentados, como a ausência da educação especial e o preconceito.
“Como professor universitário, fui confrontado com questionamentos do tipo ‘o que você está fazendo aqui?’ ou ‘como que um professor quase cego vai dar aula?’ Então, mesmo na universidade, temos muitas vezes que lidar com a desconfiança das pessoas em relação a nossa capacidade”, conclui.
A obra está disponível para pré-venda, com valor promocional, no site da Editora Econtrografia e é dirigida para professores da Educação Básica e Superior e demais profissionais que atuam na educação da pessoa com deficiência, além dos próprios estudantes.
Texto: Nábila Corrêa