Visivelmente incomodado com a situação, Geller expressou sua decepção com a exoneração, ordenada pelo ministro Carlos Fávaro após suspeitas de fraude no leilão para a importação de arroz.
“Estou chateado com a forma como fui afastado […] Eu não devo nada e poderia ter sido afastado temporariamente para esclarecer todos os pontos”, declarou Geller, reforçando sua inocência e apontando para uma decisão precipitada por parte do ministério.
A demissão de Geller, oficializada em 12 de junho, aconteceu depois do cancelamento de um leilão controverso para a importação de 263 mil toneladas de arroz, no qual o governo federal faria o investimento de 1,3 bilhão de reais.
O evento foi cercado por suspeitas de favorecimento, especialmente depois que um ex-assessor de Geller, Robson França, envolvido no leilão, foi identificado como sócio do filho do ex-secretário em uma empresa de corretagem.
Durante seu depoimento, Geller se distanciou das alegações de fraude, esclarecendo que não teve participação direta no leilão. Ele revelou ter sido contrário à iniciativa desde o início, preferindo uma redução da alíquota de importação para incentivar a entrada de arroz do Mercosul, ao invés de um leilão amplo.
O ex-secretário relatou a ocorrência de uma reunião na Casa Civil, na qual ficou acordada a realização do leilão:
“Fui voto vencido,” lamentou.
Ele enfatizou que a medida foi um “equívoco político” que não considerou adequadamente a realidade do mercado e da produção nacional.
“Já tínhamos 83% do arroz colhido e disponível nos armazéns. O restante, fora das áreas de inundação, estava seguro,” argumentou.
Também esteve em pauta desde janeiro, a discussão sobre o abastecimento de arroz, muito antes das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Existiam dados claros indicando uma supersafra em 2024, o que, segundo ele, tornava a importação desnecessária.
No depoimento, o ex-secretário ainda ressaltou que teria informado à Casa Civil que a importação seria desnecessária. O órgão teria optado por não seguir a orientação e prosseguir com o processo de compra do arroz estrangeiro.
Um dos pontos de maior tensão da audiência foi quando o deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS) indagou o depoente sobre um trecho do depoimento no qual ele afirmou que Fávaro “sabe como funciona” e sobre o ministro também conhecer Robson França.
Geller usou o tempo de que dispunha, mas não respondeu objetivamente todos os questionamentos formulados por Van Hattem, que solicitou ao presidente do Colegiado que desse mais tempo para o ex-secretário responder. Este momento inflamou os deputados Delegado Caveira (PL-PA) e Coronel Meira (PL-PE), que cobraram que depoente fosse menos evasivo nas respostas.
Após os ânimos se exaltarem, o ex-ministro apontou que não tinha nada a esconder e afirmou não ter se encontrado pelo titular do Ministério da Agricultura após sua exoneração, que lhe foi comunicada por e-mail.
O depoimento de hoje (18 jun. 24) aumenta a munição da oposição para ida amanhã de Carlos Fávaro à Comissão de Agricultura para prestar esclarecimentos amanhã (19. jun.24).
O ministro é esperado por parlamentares para que ele explique as questões polêmicas envolvendo o leilão da importação do arroz.