Mário Pinheiro, de Paris
Martin Heidegger afirma que nada é sem razão, que tudo deve ter uma razão. Não é pretensão nenhuma dizer que a política precisa de desculpas quando a realidade não é favorável. Há poucos anos, por exemplo, um político de pouca importância e de pequeno porte no Ministério do Meio Ambiente, usou termos esdrúxulos para acabar com o Ibama, com a política de proteção ambiental e que a mudança climática era pura invenção.
Na verdade, ele deu provas de que era vago sua forma de pensar e agir. O vazio é o destaque da falta de razões. Criticar o papel da razão onde o vazio toma todo espaço é um trabalho penoso porque é preciso coragem de desarmar o mentiroso em suas cruzadas, advertir os simples sobre as armadilhas que o sentimento religioso influencia pela arte da retórica, pelo medo e pelas vias políticas.
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Heidegger aponta Leibniz como o autor de “nada é sem causa” e a causa mais nobre de políticos que visam somente o enriquecimento ilícito e o desvio de verbas para compras secretas de bens ou mesmo de contas offshore.
A pretensão do político vazio, acéfalo, mas cheio de vontades de estufar o bolso, cai na paranoia. A paranoia, segundo Adorno e Horkheimer, é o símbolo do homem de meia cultivação ou aquele que fala demais pra não dizer nada.
Numa posição pior que o político “meia boca”, inútil ou paranoico pode estar o eleitor cego que renega a imbecilidade de seu líder. Mas Leibniz assegura que “existe, na natureza das coisas, uma razão para que algo exista em vez de nada”. Hannah Arendt ressalta que esta razão tão necessária ao político, era a fonte de questionamentos de Platão e Aristóteles na vida dos gregos.
As lições ao príncipe, coordenadas por Maquiavel, é um exemplo de como mostrar o que não se é. Acaso ou não, toda a tropa política que se fez batizar no rio Jordão nos últimos dez anos, acabou presa por corrupção, ou teve o nome ligado a quadrilhas de usurpadores, e no estado de Santa Catarina 21 prefeitos declaradamente bolsonaristas foram presos por corrupção. Ausência de razão transforma o perigo em banalidade, a violência em necessidade, o vazio em visão superior ao espirito.
A racionalização e os abusos de poder político ficam evidentes. A classe política brasileira, aquela do Congresso que deseja ter a chave do cofre, não tem razão de existir, ela não faria nenhuma falta se engasgassem com pescoço de galinha. Ela é nula, vazia de ideias, o que vale pra ela se resume na falação sem nexo, em ataques desproporcionais, um verdadeiro desserviço à inteligência.
A maioria, exceto um pequeno número, desconhece a grandeza e o objetivo principal da ação política, a literatura política e sua relação com os eleitores e o Estado que o elegeu. É paradoxal e mesmo contraditório quando, num país que se dizendo laico, o dito cujo se autodenomine religioso, fervoroso, nos antros da casa de lei.
Para cada doença, vírus ou bactéria existe vacina pra convalescer o paciente, mas ao político que joga contra sua nação, a educação e a saúde, faz de conta que fala com toda razão, ele simboliza o ralo da corrupção, um criador de contas fantasmas, de laranjas e falácias.
Se viajarmos no tempo e na página dos livros veremos que Aristóteles disse que todo homem é um animal político. Nos últimos anos nos defrontamos com o homem político sem racionalidade. Vemos o animal, mas não o homem.
E se olharmos Maquiavel sobre suas famosas lições ao príncipe, os príncipes da atualidade se multiplicaram, eles compram mansões sem provar a origem pecuniária; pretensiosamente são contra o meio ambiente; príncipes da religião que ensinam como roubar o fiel.