No mês em que se iniciam os Jogos Olímpicos, o III Seminário Mulheres no Esporte lançou a campanha “Mulheres da Luta”, que visa ampliar o espaço de discussão e compartilhamento de experiências com foco na inclusão de meninas e mulheres no esporte. O evento será realizado na próxima quinta-feira (11), na Casa G20, contará com debates mediado por Carol Barcellos, co-fundadora do projeto Destemidas, em parceria com a Luta Pela Paz, e terá a presença de atletas, jornalistas e outras personalidades femininas de destaque do cenário nacional.
- Melasma: veja causas, sintomas e melhores tratamentos para condição de pele que afeta famosas
- Queridinha de Madonna, Anne Hathaway e Bill Clinton, brasileira orienta mulheres em mudança de estilo de vida
No bate-papo com ELA, Carol aborda questões vitais relacionadas ao papel das mulheres no espaço esportivo. Leia abaixo:
Você é co-fundadora do projeto Destemidas, em parceria com a Luta Pela Paz, e será a mediadora do III Seminário Mulheres no Esporte. Qual é a importância de discutir a inclusão de meninas e mulheres no esporte?
Precisamos reconhecer que existe essa diferença, só assim conseguimos combater. Claro, que no dia em que isso não for mais assunto, aí, sim, será uma conquista. Mas até lá acho que tem muito a discutir, inclusive, temos falado tanto das Olimpíadas, que serão Olimpíadas igualitárias, mas a gente tem que sempre fazer uma ressalva: igualitárias quando falamos de atleta, de quem está nessa posição. Se formos falar de técnicos, de cargos de diretores, o número de mulheres vai diminuindo. Temos que estar com isso na cabeça o tempo inteiro, porque é importante que haja uma busca igualitária em todas as esferas. Em especial, acho que menina e adolescente, cara, aí estou indo além. Uma função que eu acho que ela é mais potente do esporte, que vai muito além da conquista, da medalha, que é a formação. É a formação de ser humano. O esporte é muito importante nessa fase. O esporte vai colaborar para você ganhar confiança, para trabalhar a sua autoestima… Tem tantos valores e tantos skills, tantas habilidades que você aprende ali, e a gente precisa deles. As meninas precisam deles, as mulheres precisam. Então eu acho que o esporte, quando eu falo menina, para ter acesso ainda nova, ele é essencial na formação e no que ela vai levar para a vida dela.
O esporte é um dos grandes impulsionadores da igualdade de gênero, além de ser uma importante ferramenta de empoderamento e de promoção de autoestima. Porém, casos de machismo escancaram o ambiente hostil que as atletas enfrentam para seguir na carreira esportiva. Como incentivar e democratizar o esporte praticado por mulheres?
Tem um estudo que fala como é alta a taxa de abandono do esporte entre meninas e adolescentes justamente porque o ambiente é hostil. E aí é hostil em relação a tudo, é hostil em relação ao comportamento, é hostil quando não é aceita se a menina. A adolescente passa por transformações físicas. E esse ambiente muitas vezes não está preparado para acolher e para respeitar essas mudanças. Eu acho que é tão simples, você não quer estar onde não se sente acolhido, onde você não se sente bem recebido, onde você não se sente respeitado. Então para que uma menina queira praticar esporte, ela precisa que o entorno seja um ambiente, o que é só um direito, tá? A gente não está falando de favor nenhum, só um direito. Um ambiente em que ela seja respeitada, respeitada como atleta, respeitada como mulher, respeitada em todas as esferas, se não, é natural que você queira fugir daquele lugar, que não queira estar ali.
Embora já tenha se passado tanto tempo, os resquícios de preconceito ainda são evidentes nos dias de hoje. Mulheres enfrentam o estereótipo de que são frágeis e incapazes de enfrentar os desafios. Quais medidas podem ser tomadas para que o esporte feminino conquiste o reconhecimento que merece?
Já houve argumento de que não rende tanto, não tem tanto interesse publicitário, né? Isso tem sido derrubado, pesquisas têm derrubado esse argumento, mas é até difícil falar quando vem com essa de ‘as mulheres têm uma fragilidade’. Já foi demonstrada de várias formas a potência esportiva por mulheres. Então, vai passar pela educação, né? Vai passar pelo conhecimento, vai passar por estudos, vai passar pela divulgação de estudos, vai passar por todos os setores da sociedade envolvidos. Eu estou falando das marcas envolvidas, das confederações envolvidas e dos veículos de comunicação envolvidos também.
É inegável que o mundo do esporte é controlado e pensado por e para homens brancos, heterossexuais e cisgênero. Afinal, eles ainda estipulam a maioria das regras, incluindo aquelas que policiam os corpos de meninas e mulheres. Na sua opinião, recrutar mais mulheres de diversas origens e culturas para posições de liderança é um passo importante para que as equipes femininas conquistem mais respeito no esporte?
Vai além de mulheres. Quando estamos falando de diversidade, de respeito a todos na sociedade, tem que estar todo mundo incluído, porque tem gente de todas as formas, gostos e desejos praticando esporte. É um ambiente para todo mundo. Eu acho que a gente tem que, inclusive, ir além quando entramos nessa discussão do esporte, porque estamos falando muito, inclusive, pontualmente em relação às Olimpíadas, mas essa igualdade, essa diversidade, ela tem que ser muito mais ampla do que a gente falar de homens e mulheres.
Qual é a importância do esporte para a sua vida? Quais os benefícios para a sua saúde física e mental?
Quando eu era nova, na adolescência, morei um ano nos Estados Unidos, fazendo intercâmbio para estudar, e nesse período eu nadava, fazia parte da equipe de natação. Quando voltei, já estava muito perto do vestibular, então o esporte que eu conseguia manter era corrida. Joguei bola na escola uma época, eu não jogo bem não, né? Mas joguei, era esforçada. Hoje, olho para trás com muita alegria de ver e reconhecer tudo que o esporte me deu, porque vai muito além da profissão. Ele ajudou na formação da minha segurança, da minha autoestima, me fez ser mais forte, me fez ser mais resistente, me ensinou a ter resiliência, me ensinou tanto que eu tenho que empregar e que recorrer a isso em tantas situações, em tantos momentos da minha vida.
Conta pra gente um pouquinho da sua história com o jornalismo esportivo e sobre os desafios que encontrou ao longo da carreira
O esporte sempre teve presente mais na prática do que como realmente um objetivo de carreira e de profissão. Quando fiz jornalismo eu queria trabalhar com economia, cheguei a fazer alguns cursos, até durante a faculdade, alguns cursos extras, mas quando fiz a próxima seleção para estagiar na Globo, o esporte, entre as quatro opções [ele era a minha quarta], foi a vaga que pintou. Estou fazendo 20 anos agora, em agosto, 20 anos no esporte, 20 anos como jornalista e 20 anos como jornalista esportiva. Tive oportunidades de fazer trabalhos muito legais, mas quando eu olho para dentro, vejo que o papel do esporte na minha vida foi muito além do trabalho. Por isso, sinto o desejo de retribuir um pouco do que o esporte me deu. Para mim, é muito importante ter um projeto com o ‘Destemidas’, que existe há sete anos. O mais legal do seminário é ter a chance de ouvir as atletas, pessoas que estão trabalhando nas pesquisas também, que falam da participação das mulheres, se tem crescido ou não, porque tem que crescer ali, né, na base, tem que estar na formação de cargos de chefia… É muito mais abrangente. E nesse seminário vai ser muito legal poder, acima de tudo, ouvir essas mulheres, porque a gente fala tanto, né, acabo que falo de esporte com tanta frequência, e eu acho muito bom, necessário e essencial quando posso ouvir, ouvir, saber o que está sendo feito, os desafios que estão sendo enfrentados por várias outras mulheres em outras áreas do esporte, que são muitas, né?