Laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que Yuri Henrique Gabriel Santos de Castro, que desapareceu neste mês após deixar uma sauna gay em São Paulo, morreu por causa de “politraumatismo”. A informação foi confirmada nesta terça-feira (30) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
A causa da morte do publicitário foi encaminhada ao Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso como homicídio. Até a última atualização desta reportagem a investigação não havia identificado nenhum suspeito pelo assassinato de Yuri.
A vítima tinha 23 anos e estava desaparecida desde o último dia 20 de abril, quando havia saído da casa da família. No dia 22 de abril, Yuri tinha ido com um amigo à sauna gay do Hotel Chilli, no Largo do Arouche, Centro da capital. Segundo testemunhas ouvidas pela investigação, os dois não conseguiram pagar a conta da hospedagem por causa de problemas nos cartões bancários.
Ainda de acordo com a polícia, o amigo de Yuri contou que saiu para pegar dinheiro e quando voltou ao hotel para pagar a conta, o publicitário não estava mais no lugar. Ele teria tido um surto e deixado o hotel sem acertar o valor da despesa.
Yuri só foi encontrado novamente no dia 23, quando foi resgatado por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a 600 metros do hotel, numa rua da região da Santa Ifigência.
O publicitário foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Vergueiro, na Zona Sul, onde não resistiu e morreu. Segundo o boletim de ocorrência, ele teve “hipoxemia” (falta de oxigênio no sangue) e “choque hipovolêmico” (perda, em grande quantidade, de líquidos e sangue).
Mas a causa da morte de Yuri só foi confirmada após a divulgação do laudo do IML:
“Laudo analisado pela autoridade policial definiu a causa da morte como politraumatismo”, informa nota da pasta da Segurança Pública. “Exames periciais complementares foram solicitados e estão sendo elaborados.”
O caso chegou a ser registrado inicialmente como morte suspeita pelo 5º Distrito Policial (DP), Aclimação. Mas por conta da sua complexidade, a investigação passou a ser feita pelo DHPP.
Equipes da delegacia especializada do departamento buscam por imagens de câmeras de segurança para ajudar no esclarecimento do crime. A polícia também vai chamar testemunhas, pessoas que trabalham no hotel, amigos e parentes de Yuri para prestarem depoimentos.
O que dizem amigo e família
O amigo contou à polícia que saiu do hotel para buscar dinheiro e deixou um celular como garantia. Mas quando retornou, Yuri já não estava no local.
Ele disse ainda que seguranças do estabelecimento estavam recolhendo os pertences do publicitário, afirmando que o jovem teria “dado fuga” e deixado tudo para trás.
“Ele [amigo] deu essa versão, que o Yuri saiu correndo, os seguranças foram atrás, trouxeram ele de volta e logo em seguida ele fugiu de novo. Só que é muito ilógico, como é que você, segurança deixa uma pessoa fugir duas vezes, do mesmo local? Tem muitas pontas soltas, ninguém sai correndo nu no meio da rua, desaparece e aparece morto”, afirmou Larissa Cristine Santos de Castro, irmã de Yuri.
Na terça-feira (23), quando o pai de Yuri procurou o hotel, ele foi informado que o jovem teve um surto psicótico.
“A versão data pelo hotel é que meu filho havia surtado. Primeiramente que saiu para fumar, mas meu filho não fumava. Disseram que quando ele saiu na área de fumante, se evadiu e correu em direção ao Terminal Amaral Gurgel. Os seguranças foram atrás dele e trouxeram ele de volta”, disse Marco Antonio.
O rapaz estava sendo procurado pela família, por meio das redes sociais, desde o dia 23, quando o pai registrou boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do jovem numa delegacia.
Yuri foi encontrado pelo Samu sem documentos e acabou levado para atendimento como desconhecido. Por isso a família não foi acionada antes.
O corpo dele só foi identificado no dia 24, após exames papiloscópicos feitos pelo Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD).
O corpo do publicitário foi enterrado no dia 27 de abril num cemitério da capital.
Segundo Douglas Drumond, responsável pelo hotel, Yuri era frequentador assíduo do local, conhecido como uma sauna gay.
Ao g1, o proprietário afirmou que às 4h25 de segunda Yuri relatou a funcionários que estava sendo perseguido dentro do hotel. Ele pediu a conta, para ir embora, mas não tinha dinheiro para pagá-la.
Neste momento, pediu para fumar em uma área aberta e, enquanto o segurança revistava um outro cliente, o publicitário saiu correndo em direção ao Terminal Amaral Gurgel. O funcionário foi atrás do rapaz, segundo relato do dono do estabelecimento.
“Ninguém agrediu ele. Ele [segurança] segurou ele [Yuri] pelo pescoço, porque ele precisava voltar para o hotel. Ele estava de roupão no meio da rua”, alegou Drumond. “[O segurança] segurou ele pelo braço, segurou ele pelo pescoço, para poder trazer de volta para o hotel.”
Desaparecimento no Centro
Em 19 de abril, um outro boletim de ocorrência tinha sido registrado pelo desaparecimento de um homem, de 36 anos, após “se envolver em uma briga em uma casa noturna”, também na região do Centro da capital.
Segundo a SSP, ele foi localizado no Conjunto Hospitalar Mandaqui e, após receber alta médica, retornou para sua residência. “A vítima afirma não se lembrar dos acontecimentos. O caso foi registrado pelo DHPP”.
Em 2023, o Hotel Chilli havia sido notícia quando Luiz Carlos Pereira de Lima, que em 2020 ficou conhecido nas redes sociais pelo meme “Cadê meu green?”, morreu dentro da banheira da suíte da sauna gay. Até a última atualização desta reportagem o caso era investigado como morte suspeita.
Essa tinha sido a terceira morte dentro do hotel, segundo o próprio estabelecimento havia informado.