Cada um sabe do seu bolso, claro, mas a maioria vê perda do poder de compra, e isso não aconteceu: afinal, temos o índice de inflação, sabemos a correção dos salários e os dados sobre a renda do trabalho. Ainda assim, 62% dos que recebem até dois mínimos afirmam que piorou; 65% entre os que recebem de dois a cinco e 62% no grupo que recebe mais de cinco. Ainda que a inflação esteja em índices civilizados, o descontentamento com o preço dos alimentos é gigantesco: 70% apontam que subiu. Não obstante, 52% apostam que as coisas vão melhorar.
Paul Krugman tem escritos seguidos textos a respeito da percepção dos americanos sobre a economia. Sim, a inflação ainda está alta por lá. E também os juros — para os padrões locais. Mas o país cresce, a pleno emprego. A maioria diz que sua vida econômica tem melhorado, mas que a economia vai mal — e não vai.
Bem, o fato é que os índices de Lula e do governo melhoraram sensivelmente sem que tenha havido uma mudança de percepção sobre a economia. Há o conhecimento e a aprovação de programas do governo: Bolsa Família (80%), Farmácia Popular (86%), Desenrola (73%), Pé de Meia (60%), Novo PAC (44%), Programa Acredita (38%). Mas isso não começou nos últimos dois ou três meses.
Então melhorou por quê?
Há muita coisa a pensar. Lula vem de uma jornada de entrevistas em rádios, veículo a que governos costumam, estupidamente, dar pouca atenção. Há, parece-me, a percepção de que Lula viaja menos — sim, é um erro a censura a viagens, mas existe — e dá mais atenção aos problemas internos. Nesses encontros, tem dito coisas com as quais a maioria ouvida na pesquisa concorda:
– salário mínimo deve ter aumento acima da inflação: 90%;
– juros no Brasil são muito altos: 87%;
– carne consumida pelos mais pobres deve ter isenção de imposto: 84%;
– é preciso fazer pente fino nos benefícios sociais: 83%;
– o governo não deve satisfação ao mercado, mais aos mais pobres: 67%. Ele não disse exatamente isso, mas vá lá.
Dizem ter tomado conhecimentos dessas entrevistas 41% — é muita gente — contra 59% que afirmaram o contrário.